Molécula pode ajudar na produção de medicamento contra leucemia
São Paulo, 19 (AE) - Um projeto já
em fase avançada, elaborado pela parceria entre o Laboratório
Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e o Centro Infantil Boldrini,
pretende desenvolver uma molécula capaz de ajudar na produção de
medicamentos específicos para tratar a Leucemia Linfóide Aguda (LLA),
tipo de câncer comum em crianças. Os dois centros ficam em Campinas,
a 100 quilômetros da Capital paulista, e são referência no setor.
Na primeira fase do estudo, os
pesquisadores reconstroem o contato que ocorreu entre as células
normais e as células leucêmicas. A partir dessa análise, é possível
identificar as proteínas que atuam no desenvolvimento da leucemia. A
idéia, então, é criar uma molécula capaz de interferir na ação
dessas proteínas.
O pesquisador Nilson Zanchin, do LNLS,
explica que o trabalho está em estágio avançado e já existe um
conjunto de proteínas identificadas. "Mas selecionamos um número
pequeno para determinar a estrutura e a ação detalhada nas células",
conta. Ele lembra que o objetivo desse trabalho não é o medicamento
final, mas "a base de conhecimento para a produção de novas drogas".
"O desenvolvimento de novas drogas
depende do conhecimento da estrutura das moléculas que você pretende
bloquear e podemos adquirir esse conhecimento no centro de biologia
molecular estrutural dentro do LNLS", diz José Andrés Yunes, doutor
em genética e chefe do laboratório de biologia molecular do Centro
Infantil Boldrini.
RAIO X - Além de conhecer bem a
estrutura das proteínas, os pesquisadores precisam reproduzi-las em
formato tridimensional. Para isso, eles contam com a luz síncrotron
- raio X de alta intensidade que mapeia as proteínas. O LNLS é o
único centro no hemisfério sul que dispõe desta tecnologia. "Sem
esse sistema e sem reconstruir a estrutura da proteína, não podemos
avançar para o estágio três que é buscar moléculas inibidoras",
informa Zanchin.
Hoje a pesquisa está no segundo
estágio, que consiste no experimento entre proteínas produzidas
dentro do LNLS. Embora a idéia seja encontrar moléculas alvo e
desenhar os inibidores, os envolvidos no projeto reconhecem que um
medicamento demanda mais tempo e pesquisas complexas envolvendo
pacientes. Tanto é que, ao final da pesquisa, os resultados deverão
ser "oferecidos" aos laboratórios interessados em desenvolver a
droga final.
"Para chegar a uma medicação
precisamos fazer cultura de animais. Nossa pesquisa é para dizer que
temos uma proteína que desempenha determinada função na doença e que
desenvolvemos uma molécula capaz de atuar na atividade dessa
proteína", frisa Zanchin.
Mas José Andrés Yunes acredita que,
até o próximo ano, resultados preliminares deverão ser publicados.
NÍVEL DA DOENÇA - Outro estudo
em andamento, também fruto da parceria entre o Centro Infantil
Boldrini e o LNLS, trata da doença residual. A pesquisa, feita com
base em dados dos pacientes do centro, mede a quantidade de células
leucêmicas durante o tratamento. A análise utiliza uma técnica
chamada de PCR (polymerase chain reaction), capaz de amplificar o
DNA. Por ter uma sensibilidade maior, é possível detectar pacientes
com um nível muito baixo de células oncológicas.
Exames mais comuns não atingem esse
nível de sensibilidade, o que leva o médico a dizer que a doença
está em remissão clínica. "Com o PCR, esses pacientes poderiam ser
tratados de maneira diferenciada em relação aos outros. Com as
informações, o médico pode adotar quimioterápicos diferentes. O
teste é caro, mas o protocolo europeu, por exemplo, já usa a doença
residual para estratificar pacientes", explica Yunes.
ACORDO INTERNACIONAL - Embora
as pesquisas em andamento estejam caminhando bem, um acordo assinado
no mês passado com o Diamond Light Source, maior laboratório do
gênero no Reino Unido, deve acelerar os projetos no LNLS e
proporcionar a troca de tecnologias. De acordo com Zanchin, até
mesmo o estudo em torno da leucemia poderá ter ganhos, já que o
Diamond tem grande interesse na área.
"De modo geral, a idéia é fazer
intercâmbio de pesquisadores e troca de tecnologias. O Diamond tem
setores para materiais magnéticos, biológicos, mais recursos e
possuem uma variedade de experimentos maior que aqui", lembra
Zanchin.
BOXE 1
BOLDRINI TEM ESTUDOS INDEPENDENTES
Além das pesquisas em parceria com o
LNLS, o Centro Infantil Boldrini, por meio de seu laboratório de
biologia molecular, que deve ganhar prédio próprio futuramente,
trabalha em projetos individuais. Um deles é voltado para o campo
diagnóstico. Pesquisadores usam a ressonância magnética para avaliar
amostras de sangue e verificar a resistência da leucemia ao
tratamento já nas primeiras horas.
"Dependendo do resultado saberemos se
a doença responde ou não. Esse trabalho está em andamento. Estamos
fazendo testes com células em cultura e em cobaias de laboratório.
Depois, teremos que pensar em trabalhar com amostras de pacientes",
explica José Andrés Yunes Yunes. O trabalho é bastante interessante,
pois permitirá a troca de tratamento, em caso de resistência, num
curto espaço de tempo, manobra que aumentará as chances de cura",
salienta.
BOXE 2
O QUE É O LNLS?
O Laboratório Nacional de Luz
Síncrotron (LNLS) foi estruturado em 1987 para promover e realizar
pesquisas; a fonte de luz entrou em operação em 1997, colocando o
Brasil no seleto grupo de 14 países que dominam o conhecimento e a
tecnologia. O local recebe pesquisadores de todo o País que se
reúnem uma vez por ano para apresentar os avanços alcançados com o
uso da tecnologia.
O LNLS é ligado ao Ministério da
Ciência e Tecnologia e tem um orçamento que vem da pasta. Existem
também projetos científicos financiados pelas agências como o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ)
e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Há
ainda projetos financiados pela iniciativa privada, mas em
porcentual menor.
Mais informações na Internet:
www.lnls.br
BOXE 3
A DOENÇA
Apesar de rara, a leucemia é a doença
maligna mais comum em crianças, sendo que a leucemia linfóide aguda
(LLA) responde por 85% dos casos. No geral, as leucemias são
classificadas entre agudas e crônicas; as agudas têm como
característica o acúmulo de células imaturas, tendo também falha na
produção de glóbulos brancos diferenciados. A incidência estimada da
LLA é de 1 caso para cada 25 mil pessoas, entre crianças e
adolescentes de 0 a 14 anos. Entre os sintomas, destacam-se: febre,
fraqueza e fadiga, infecções, perda de apetite e peso, sangramentos
e manchas roxas na pele.
Fonte:
yahoo.com.br
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