Em um estudo conduzido pela
Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e publicado na revista
especializada Current Biology, os cientistas observaram um
homem cego que conseguiu passar por um labirinto com obstáculos sem
a ajuda de uma bengala ou de qualquer pessoa.
O homem, identificado apenas como TN,
usou sua intuição para andar em um corredor com cadeiras e caixas,
sem esbarrar em nenhuma delas, usando mecanismos "escondidos" do
cérebro.
O estudo sugere a existência de
recursos subconscientes no cérebro que podem ajudar na realização de
tarefas que acreditamos não ser possíveis.
TN ficou cego por causa de lesões
sofridas no córtex visual nos dois hemisférios do cérebro, após uma
série de derrames.
Seus olhos são normais, mas seu
cérebro não consegue processar a informação enviada por eles,
tornando-o cego.
O paciente, no entanto, já era
conhecido por ter o que é chamado de "visão cega" - a habilidade de
detectar coisas em um ambiente mesmo sem estar ciente de que
consegue vê-las.
Ele responde, por exemplo, às
expressões faciais de outras pessoas, mas anda com a ajuda de uma
bengala para identificar obstáculos e pede ajuda a outras pessoas
quando está dentro de edifícios.
Uma gravação em vídeo mostra TN
completando o "circuito de obstáculos" montado pelos cientistas "sem
cometer falhas", e sem a ajuda de uma bengala ou de outra pessoa.
A pesquisadora-chefe do estudo,
Beatrice de Gelder, da Tilburg University, na Holanda, e da Escola
de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos, disse que TN "não estava
ciente de que estava fazendo nada excepcional" e acreditava que
tinha apenas andado em linha reta por um longo corredor.
Essa é uma mensagem importante
particularmente para aqueles com lesões no cérebro, disse ela.
"Você pode perder toda a sua visão
cortical, mas ainda manter alguma capacidade de se mover dentro e
fora sem se prejudicar", disse ela à BBC.
"Isso mostra a importância desses
antigos caminhos visuais que evoluíram. Eles contribuem mais do que
pensamos para que a gente funcione no mundo real."
A pesquisa foi realizada em parceria
com pesquisadores da Grã-Bretanha, Suíça e Itália.