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Mark Felt, o Garganta Profunda morre aos 95 anos

 

Mark Felt, o Garganta Profunda morre aos 95 anos

Morreu nesta quinta-feira (18) o ex-agente do FBI Mark Felt, mais conhecido como Garganta Profunda, foi fonte de dois repórteres do jornal "Washington Post" no escândalo do Watergate --responsável pela queda do ex-presidente norte-americano Richard Nixon.

Felt sofria de problemas cardíacos e sua morte foi confirmada pelo neto, Rob Jones. A "fonte anônima mais famosa da história americana", como o descreve o jornal "The New York Times", morreu perto de sua casa, em Santa Rosa, Califórnia, a 90 quilômetros de San Francisco.

A identidade do ex-agente foi um dos maiores segredos do jornalismo americano por mais de 30 anos. Ele foi a principal fonte dos jornalista Bob Woodward e Carl Bernstein para reportagens publicadas pelo "Washington Post" entre 1972 e 1973.

Suas informações privilegiadas permitiram que os dois jornalistas provassem o conhecimento e envolvimento do então presidente e republicano Richard Nixon nas escutas colocadas no prédio Watergate, sede do Partido Democrata, durante a campanha de 1972. Nixon queria receber informações privilegiadas sobre a campanha do rival para que pudesse desestabilizá-lo.

Com as informações de Felt, as matérias sobre o caso no "Washington Post" forçaram a renúncia de Nixon em 1974, em um fato sem precedentes no país.

Confidencial

Em 1970, Woodward começou uma conversa com Felt enquanto esperava em um corredor da Casa Branca. Felt, aparentemente, gostou do então jovem membro da Marinha e, quando ele se tornou jornalista, foi sua fonte de informações sobre o cenário obscuro de Washington.

Woodward disse que procurou Felt depois de escrever, junto com Bernstein, sobre possível conspiração por trás da invasão da sede democrata em Washington. "Era um momento em que ter uma fonte ou amigo nas agências investigativas do governo era algo valioso", disse Woodward no "Post". "Eu liguei para Felt no FBI. Seria nossa primeira conversa sobre Watergate".

Segundo Woodward, Felt disse que o caso iria esquentar e, abruptamente, desligou, temendo escutas telefônicas. No entanto, ele passou a dar pistas sobre o escândalo que lhe rendeu um prêmio Pulitzer --o mais prestigiado do jornalismo-- e se tornou um dos mais importantes episódios da história.

Seguindo uma rotina complicada, Felt e Woodward se encontravam em um estacionamento subterrâneo. O Garganta Profunda apenas confirmava as informações que os repórteres obtinham de outras fontes anônimas. Aos poucos, a dupla descobriu uma conspiração política.

"Felt acreditava que estava protegendo a agência [FBI] ao encontrar uma maneira clandestina de vazar informações dos interrogatórios e arquivos do FBI para o público, a fim de construir uma pressão pública e política para que Nixon e sua equipe fossem responsabilizados", escreveu Woodward, após a identidade da sua mais famosa fonte já ter sido revelada.

"Ele só tinha desprezo pela Casa Branca de Nixon e seus esforços de manipular a agência por razões políticas".

O Garganta Profunda, cujo apelido foi inspirado em um famoso filme pornográfico da época, ganhou fama mundial quando quando Woodward e Bernstein lançaram, em 1974, o livro "Todos os Homens do Presidente", que foi transformado em filme de sucesso em 1976.

Revelação

Woodward e Bernstein prometeram não revelar a fonte da suas matérias de 1974 até que ela morresse. Assim, o Garganta Profunda manteve-se uma lenda por mais de 30 anos.

Em 2005, após mais de 30 anos, a filha de Felt, Joan, o persuadiu a ir a público e revelar sua identidade. Ajudou o fato de Woodward insistir que a revelação não lhe traria problemas e poderia ser muito lucrativa.

Aos 91 anos, seu papel no escândalo tornou-se público em um artigo escrito na revista "Vanity Fair" pelo advogado John D. O'Connor. "Sou o cara que eles costumavam chamar de Garganta Profunda", disse Felt.

Segundo o artigo, a filha de Felt insistiu no lucro que a história poderia render. "Nós poderíamos ganhar dinheiro suficiente para pagar algumas contas, como a dívida que eu acumulei pela educação das crianças", disse Joan ao pai. "Façamos isso pela família".

O artigo causou uma comoção na mídia americana e mundial. Contudo, enfraquecido por um derrame, Felt não pode aproveitar a história como quis sua filha. Ele apenas acenava aos repórteres na porta de sua casa.

"As pessoas debaterão por um longo tempo se eu fiz a coisa certa em ajudar Woodward", escreveu Felt em seu livro de memórias, "A G-Man's Life: The FBI, "Deep Throat" and the Struggle for Honor in Washington". "O resumo é que nós conseguimos levar toda a verdade a público e isso não é o que o FBI deve fazer?".

A revelação de sua identidade efetivamente inspirou um novo debate sobre o caso, com alguns o chamando de herói na luta contra corrupção e outros de traidor do governo americano.

 

Fonte: folha.uol.com.br

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