Ex-babá Katy Rosa deixa o subúrbio para brilhar no Fashion Rio
Ao chegar ao backstage da grife
Acomb, no sábado, último dia do Fashion Rio, a modelo Katy Rosa
sentiu alguns olhares esnobes em sua direção. As outras meninas
pareciam se perguntar: "Quem é essa aí?" Moradora da Cidade Alta,
conjunto habitacional favelizado da zona norte do Rio, iniciante na
profissão, Katy poderia ter se intimidado. Que nada. "Não estava ali
por sorte, e sim por mérito. Eu me senti de igual para igual em
relação a todas. Quando entrei, disse pra mim mesma: ?Agora essa
passarela é minha!?"
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Bonita, altiva e
articulada, Katy, aos 22 anos, não tem mesmo o que temer. Com 1,77
metro e 47 quilos, acaba de ser contratada pela agência 40 Graus.
Agora, espera ser chamada para o São Paulo Fashion Week. "Se me
ligarem, vou correndo!", diz. Em sua primeira empreitada num grande
desfile, a moça, que só terminou o segundo grau e já trabalhou como
babá, se transformou numa Cinderela negra, que brilhou sob a tenda
do Fashion Rio.
Katy, que é filha de uma aderecista da escola de samba Vila Isabel,
virou noites bordando e costurando para ajudar a preparar os looks
vistos na passarela. Os modelos foram idealizados pelo estilista
Beto Neves - da grife Complexo B, que também se apresentou no
Fashion Rio -, e produzidos no núcleo de moda da Ação Comunitária do
Brasil, que existe há quatro anos.
A Acomb, que estreou na feira de moda este ano com o patrocínio da
Petrobrás e da Federação das Indústrias do Rio, é um desdobramento
do trabalho da Ação Comunitária, criada há quatro décadas.
Os vestidos, blusas, saias, blazers e calças cheios de detalhes em
miçangas e paetês de coco da Acomb foram confeccionados
artesanalmente na sala de produção da organização, que fica num
prédio na Cidade Alta. O bairro surgiu na década de 60, para abrigar
moradores removidos da antiga Favela do Pinto (uma parte também foi
para a Cidade de Deus, aquela, do filme). De lá também saíram
cabeleireiros, maquiadores e o pessoal que cuidou da alimentação das
modelos. A equipe passou por cursos profissionalizantes oferecidos
pela ONG.
Além de Katy, também ajudaram a bordar e costurar as roupas outras
três modelos do casting da Acomb e da comunidade da Cidade Alta:
Katlyn Rose, de 17 anos (também contratada pela 40 Graus), Dayane
Rocha, de 16, e Isabela Farias, de 19. Amigas, as meninas estão
cheias de sonhos, mesmo que modestos. "Queria ter dinheiro para
poder fazer uma compra do mês", diz Dayane.
No backstage, Katy ainda teve que escutar uma jornalista lhe
perguntar como se sentia ali, sendo uma menina de favela. "Ela falou
que na favela as garotas andavam malvestidas e descalças. Eu, hein!
Não ando descalça nem em casa!", diz a modelo, de nariz para o alto
e escarpin amarelo de verniz nos pés.
Fonte:
estadao.com.br
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