Diretor-geral da
TV Brasil deixa o cargo
O diretor-geral da TV Brasil,
Orlando Senna, 68, disse à Folha Online que deixou a TV Brasil por
discordar da forma de gestão da empresa. A saída de Senna da TV
pública foi primeiro noticiada por Mônica Bergamo, colunista da
Folha.
Senna também afirmou se
sentir exausto após trabalhar por sete anos na gestão pública.
"É uma estrutura
engessante", afirmou Senna, ao se referir a questões que o
incomodavam na empresa.
Ele ainda disse que se
sentiu pronto para deixar o cargo após a incorporação da Radiobrás à
estrutura anunciada pelo governo federal.
Apesar de no comunicado
criticar a falta de autonomia, Senna afirmou, na entrevista, que
apóia o projeto da TV.
Sobre o que fará
profissionalmente após a demissão, Senna respondeu: "É uma boa
pergunta".
EBC
A saída de Senna da
Empresa Brasil de Comunicação (EBC) foi comunicada hoje em nota e
alegou que o diretor-geral demissionário se afastou por razões
pessoais.
O texto também informa
que ele considerava já ter dado sua contribuição para a implantação
da TV pública no Brasil, algo que Senna confirmou à Folha Online.
No comunicado, a EBC
agradece o empenho e a dedicação de Senna e informa que as decisões
do posto ficam temporariamente a cargo da diretora-presidente, a
jornalista Tereza Cruvinel.
A nota também indica o
afastamento do diretor de Relacionamento e Rede, Mário Borgneth, que
será substituído interinamente pelo diretor de Serviços, José
Roberto Garcez.
Íntegra
Leia na íntegra
comunicado de Senna sobre sua demissão:
"Companheiros da
atividade audiovisual (trabalhadores da luz, como diria Fernando
Birri):
Estou me afastando da
direção geral da EBC-Empresa Brasil de Comunicação, operadora da TV
Brasil, após oito meses de intenso trabalho e muitas dificuldades em
sua difícil fase de implantação. Considerei essa missão, a mim
confiada pelo presidente Lula, como uma extensão da minha gestão
enquanto Secretário do Audiovisual do MinC (2003/2007), sob a
regência do ministro Gilberto Gil. Uma extensão das políticas
públicas voltadas para a televisão e para as convergências
tecnológicas, midiáticas e empresariais da comunicação eletrônica de
massa que foram implementadas pela Secretaria do Audiovisual.
Essas políticas,
priorizadas pelo governo, estiveram focadas desde 2003 meu primeiro
ato como secretário foi extinguir o Canal Cultura e Arte, um
programa do MinC para canais fechados, que ninguém via, e anunciar
as ações voltadas para a televisão aberta e para a televisão
pública, em seguida implementadas e hoje em execução. Ações
norteadas pela criação e aplicação de novos modelos de negócios,
adequados ao cenário audiovisual que estamos vivenciando em escalas
nacional e planetária, concretizadas em programas como DOCTV, DOCTV
Ibero-americano, o futuro DOCTV Língua Portuguesa, Revelando os
Brasis, Documenta Brasil, Banco de Documentários da América Latina,
Jogos BR (videogames), Programadora Brasil, Programa Setorial de
Exportação TV e outros.
A ação principal desse
foco New Media foi, naturalmente, projetar um sistema de comunicação
pública de âmbito nacional, trabalho realizado no período de quatro
anos, com participação direta das emissoras e organizações dos
campos público e privado, produtores independentes e regionais,
academia, especialistas em comunicação e as diversas áreas do
governo envolvidas no assunto --movimento que culminou com o Fórum
Nacional de TVs Públicas, em maio de 2007, palco da decisão e do
anúncio do presidente Lula de criar a TV Brasil (na verdade, a EBC,
operadora de emissoras de TV e rádio e de uma plataforma web). A
missão de instalar a EBC foi entregue pelo presidente Lula à
Secom-Secretaria de Comunicação Social e ao recém empossado ministro
Franklin Martins.
Essa meta foi alcançada
graças à tenacidade e à firmeza do ministro Gil, do secretário
executivo do MinC Juca Ferreira e de uma equipe de jovens gestores
públicos de alto quilate, dos quais devo mencionar Manoel Rangel,
Mário Diamante, Alfredo Manevy, Sérgio Sá Leitão, Paulo Alcoforado,
José Araripe e, deixados por último para serem destacados, Leopoldo
Nunes e Mário Borgneth. A minha atuação como Secretário do
Audiovisual, comandando essa equipe que gestou a TV Brasil, motivou
o convite dos ministros Gil e Franklin Martins para que
participasse, também, na implantação do projeto, convite igualmente
dirigido a Leopoldo Nunes e Mário Borgneth.
Apesar das grandes
dificuldades dessa fase de implantação da EBC, conseguimos nesses
oito meses montar as bases de uma rede pública de TV envolvendo
todos os Estados, conformar um projeto de programação de alto nível,
estabelecer as linhas mestras do projeto tecnológico e do
planejamento de investimentos e execução orçamentária. Também teve
início a renovação dos conteúdos que herdamos da TVE, com novos
programas jornalísticos, nova linha de documentários (África,
América Latina e Ásia) e ampla faixa para filmes nacionais de todos
os gêneros. Após vários atrasos burocráticos (um dos males que
assolam a empresa), está previsto para setembro o início de uma
seqüência de lançamentos de novos programas, sob a coordenação de
Leopoldo Nunes, diretor de Programação e Conteúdos.
Deixo a EBC por
discordar da forma de gestão adotada pela empresa que, entre outros
equívocos, concentra poderes excessivos na Presidência, engessando
as instâncias operacionais, que necessitam de autonomia executiva
para produzir em série, como em qualquer TV. Melhor: como em
qualquer empresa que opera emissoras de TV e rádio, agência de
notícia, web e outros serviços audiovisuais, que é o caso da EBC.
Uma forma de gestão que induziu a exoneração de Mário Borgneth, o
excepcional articulador e executivo que organizou e coordenou o
seminal Fórum de TVs Públicas e que, como diretor de Relacionamento
da EBC, nesses oito meses, montou a estrutura de uma rede com
cobertura em todo o País, baseada em novos modelos de negócio e em
uma arquitetura horizontal, sem o verticalismo das redes comerciais.
Uma decisão com a qual não posso concordar.
Minha saída está
motivada pela consciência de que, na forma de gestão adotada, a
Direção Geral, cargo que ocupei, não está provida da autonomia e
mobilidade necessárias para cuidar dos aspectos operacionais da
empresa, tornando-se, no atual desenho de gestão, praticamente
desnecessária. Minha atitude não significa descrença no projeto, do
qual continuo ardente defensor. A EBC terá de solucionar várias
questões para alcançar o seu objetivo de empresa pública de
comunicação moderna, democrática e financeiramente saudável. São
questões no âmbito estrutural, na forma de gestão e na definição de
encaminhamentos, sobre os quais enviei documento às instâncias
superiores da empresa, no dia 30-05-2008, sugerindo ajustes e
chamando a atenção para o caráter urgente das providências.
Realizados os ajustes necessários, a EBC/TV Brasil poderá cumprir o
objetivo de liderar uma comunicação pública plural, isenta,
inteligente, interativa e formadora de cidadania.
Esses ajustes, esse
processo de concretização do sonho de uma TV pública, de uma
comunicação plenamente pública, blindada contra os poderes e
interesses governamentais e econômicos, só chegará a bom termo (como
todos sabemos) com a participação direta da sociedade. Nesta fase
crucial de instalação da EBC a ação das entidades e das
personalidades que se fizeram ouvir no Fórum de TVs Públicas, na
Carta de Brasília, na aprovação no Congresso se torna ainda mais
importante e decisiva. E que outras entidades e personalidades se
somem a esse labor de vigilância constante e atuação propositiva,
garantindo a presença majoritária da produção independente e
regional na programação televisiva, radiofônica e web, a
horizontalidade da rede, a independência editorial, o jornalismo
isento, a vinculação da empresa a algum ministério (lutemos, por
exemplo, por uma fundação pública de direito privado).
Tenho a agradável
sensação de dever cumprido e agradeço do fundo do coração a
confiança em mim depositada, nesses cinco anos e meio, por Gilberto
Gil, por Lula e pelos trabalhadores audiovisuais, elevando-me ao
honroso posto de Secretário do Audiovisual e, como extensão, à
equipe de implantação da EBC. Agradeço emocionadamente aos meus
companheiros trabalhadores audiovisuais, a quem me dirijo nesta
mensagem, pelo ininterrupto respaldo que me proporcionaram com seus
apoios, oposições, idéias, inspirações, sugestões, estímulos,
cobranças, toda essa gama viva e pulsante de uma relação que
entendi, que senti, como uma sintonia de respeito e carinho.
Abraços e beijos de um
velho roteirista e cineasta em disponibilidade na praça.
Orlando Senna"
Fonte:
folha.uol.com.br
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