E toda a atividade acontece sob os
olhos da lei. As regras dos sites são simples: enquanto o
site franco-britânico só comercializa ervas não proibidas no
Reino Unido e na França, um outro, holandês, põe à venda todo o tipo
de droga permitida nos Países Baixos − e essa lista não é curta.
O resultado é que, na prática, os
comerciantes não estão infringindo a lei, embora o holandês envie
suas mercadorias para qualquer lugar do mundo − "a responsabilidade
em transgredir ou não a lei do seu país é sua", avisa o site − e o
franco-britânico ofereça ervas cujos efeitos no corpo humano são
semelhantes ou mais intensos do que os da maconha, asseguram
usuários.
A compra dos entorpecentes é
realizada da mesma forma que os outros milhares de produtos vendidos
na Internet. O internauta é convidado a preencher um cadastro, e a
partir de então terá o seu login para futuras compras.
"Eu comecei a fumar há 20 anos, fumo
todos os dias e não consigo ficar sem usar maconha. O problema é
que, com a idade avançando, fica cada vez mais difícil de
consegui-la, então esses sites são uma solução muito prática",
explica um usuário, que não quis se identificar - assim como todos
os demais que deram depoimentos à reportagem. Conforme este
comprador, a maioria das pessoas que visitam este tipo de endereço
na Internet está em busca de discrição.
Para os clientes que visitam os
endereços pela primeira vez, os sites oferecem promoções para a
experimentação do produto. A partir de então, no holandês as
encomendas custarão pelo menos 25 euros (equivalente a cerca de R$
67), além das taxas de entrega, feita pelo correio − sim, a droga
chega na porta da casa do cliente pelas mãos de um carteiro. Um
alerta indica que não é de responsabilidade do site se a alfândega
do país confiscar a encomenda.
No endereço holandês, uma das
primeiras lojas virtuais do país, criada por um casal em 1999, o
comprador encontra livremente uma vasta diversidade de maconha e
cogumelos alucinógenos, além de também poder optar pelas sementes
destas drogas e depois produzi-las em casa.
Na capa do site, uma enquete pergunta
ao visitante qual das sete variações da erva é a melhor para uma
noite tranqüila em casa, e ainda apresenta relatos de primeira
experiência com este ou aquele tipo. A página também dispõe de
traduções em nada menos do que seis línguas, reflexo da
diversificada clientela ao redor do globo.
Nos textos publicados, o internauta
encontra até mesmo dicas de plantação das sementes vendidas,
técnicas de manutenção da planta e de preparo das folhas para o
consumo. Conforme dados da Missão Interministerial da Luta contra as
Drogas e a Toxicomania, somente na França são produzidas 50
toneladas de maconha ao ano através de pequenas plantações.
Questionado se não temia ser pego
pela polícia, um comprador de sementes de maconha disse que a lei
permite comprá-las, embora não autorize a plantação e o consumo. "Na
realidade, temos o direito legal de comprar os grãos mas não de
plantá-los a fim de produzir a droga. Então, evidentemente, uso só
para a decoração da sala", debocha o cliente do site holandês.
Já o concorrente Biosmoke (fumo
ecológico, em tradução livre oferece "apenas" uma ampla variedade de
fumo produzido com "ervas exóticas, muitas de origem
latino-americana".
Os produtos, chamados por nomes
descontraídos como "Gorilla" (12 euros - R$ 33 - por 2gr de produto)
ou "Spice" (de 13 a 25 euros - R$ 35 a R$ 67 - por 3gr), são o
resultado de uma mistura de várias ervas, todas descritas na página
de cada um, onde também se encontram especificados os países onde a
sua comercialização é proibida por lei. A Gorilla, por exemplo, não
pode ser enviada à Suíça, Dinamarca, Espanha, Finlândia, Itália,
Austrália e aos Estados Unidos, o país mais fechado às mercadorias
disponíveis neste site.
"Os efeitos são comprovados. Confesso
que no início eu estava um pouco cético, porque tudo parecia
perfeito demais, mas na metade do primeiro cigarro de Spice Gold eu
logo vi que não se tratava de uma enganação", conta outro cliente.
Na descrição dos produtos, a promessa
de sensações relaxantes ou estimulantes confirma que não se trata de
fumos convencionais. Alguns deles contêm salvia divinorum,
que provocaria efeitos alucinógenos semelhantes aos do LSD. "O
efeito é garantido mesmo para um fumante habituado. Ao final do
segundo cigarro, eu fico tão chapado como se fosse maconha, e o
efeito dura mais tempo. No entanto, as sensações de ressaca no dia
seguinte são mais difíceis", atesta um usuário.
Procurados, os responsáveis pelos
sites não concordaram em dar entrevistas. Os endereços parecem estar
sendo cada vez mais difundidos na Europa. Um usuário francês contou
seu testemunho em Paris: "Eu fumei em um café, junto com a minha
mãe. É interessante poder 'enrolar' em um café fora da Holanda, onde
tudo é liberado. O garçom logo viu que se tratava de um Biosmoke,
mas não disse nada. Aparentemente, a informação se espalha rápido",
disse.