A emissão de gases do efeito estufa -
como dióxido de carbono, ou CO2, que vem de usinas energéticas e
carros - está aquecendo a atmosfera tanto que a próxima era glacial,
prevista para ser a mais intensa em milhões de anos, pode ser adiada
indefinidamente.
"Os céticos do clima poderiam olhar
para isso e dizer, CO2 é bom para nós," disse o líder do estudo
Thomas Crowley da Universidade de Edimburgo, Escócia. Mas a idéia de
que o aquecimento global pode estar protelando uma era glacial "não
é motivo para relaxarmos, porque na verdade estamos caminhando para
um estado climático altamente incomum," Crowley acrescentou. Dentro
de 10 mil a 100 mil anos, as camadas de gelo "permanentes", como as
da Antártica, envolveriam a maior parte do Canadá, Europa e Ásia.
"Acredito que os níveis (de dióxido
de carbono) atuais são provavelmente suficientes para impedir que
isso ocorra algum dia," disse Crowley, cujo estudo aparecerá amanhã
na revista Nature.
Camadas de gelo
permanentes?
Nos últimos três milhões de anos, o clima da Terra passou por
dezenas de eras glaciais, com grossas camadas de gelo se espalhando
a partir dos pólos e então encolhendo. Essas eras glaciais
costumavam durar cerca de 41 mil anos. Mas nos últimos 500 mil anos,
essas grandes geleiras esticaram sua duração para cerca de 100 mil
anos.
Enquanto isso, as mudanças de
temperatura durante e entre essas eras glaciais se tornaram mais
extremas, com novas altas e mínimas. Não parece que essas amplitudes
térmicas extremas irão se atenuar tão cedo, segundo indícios
encontrados em rochas terrestres, Crowley disse. "As últimas duas
glaciações foram as maiores que já vimos."
O aumento da variabilidade de
temperatura é sinal de que o clima da Terra logo passará para um
novo estado, segundo um modelo de computador usado por Crowley e seu
colega William Hyde, da Universidade de Toronto, Canadá. Eles haviam
anteriormente usado o modelo para simular eras glaciais do passado.
Os pesquisadores descobriram que dentro de 10 mil a 100 mil anos, a
Terra entraria num período de camadas de gelo permanentes - mais
severo do que qualquer outro visto em milhões de anos.
Em alguns aspectos, a era glacial
seria como as das últimas centenas de milhares de anos, com camadas
grossas de gelo cobrindo a América do Norte, previu o estudo. Mas no
modelo, a Europa e a Ásia também sucumbiriam sob camadas de gelo com
até 3,5 quilômetros de espessura, que se estenderiam da Inglaterra
até a Sibéria - algo nunca visto nas modelagens das eras glaciais
anteriores.
"Ficamos surpresos," Crowley disse.
"Não há indícios de que isso tenha ocorrido na Ásia," nas eras
glaciais dos últimos milhões de anos.
Difícil saber
Essa era glacial extrema seria incomum, mas o mesmo pode ser dito do
clima que as pessoas estão criando ao emitirem grandes quantidades
de gases do efeito estufa, Crowley disse. "É difícil dizer o que vai
acontecer," afirmou. "O simples fato de termos essa atmosfera
não-glacial (aquecida) com calotas de gelo (ainda presentes)
configura um cenário bizarro. Não sei se temos uma analogia para
isso no histórico geológico.
A especialista em clima pré-histórico
Lorraine Lisiecki disse, "esse é o único estudo do meu conhecimento
que sugere que a próxima era glacial seria muito mais extrema do que
as do último um milhão de anos.
Muito mais testes ainda são
necessários para verificar a precisão do que o estudo prevê, disse
Lisiecki, da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara. Mas ela
concordou que poderemos nunca vir a descobrir o que teria acontecido
naturalmente, devido ao aquecimento global causado pelo homem.
"As atuais concentrações de gases do
efeito estufa são provavelmente similares a aquelas ocorridas há
três milhões de anos, ela disse, "e são altas o bastante para
impedir uma era glacial por centenas de milhares de anos."