O inventor da tecnologia é Alex
Pentland, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que
desenvolveu aparelhos semelhantes a celulares que ouvem as conversas
das pessoas, e programas que avaliam as cadências do diálogo,
estudando os sinais de comunicação que existem por sob as palavras.
Se comercializadas, essas ferramentas
poderiam ajudar os usuários a lidar melhor com muitas sutilezas das
interações pessoais ou sociais - ou pelo menos levá-las a deixar de
dominar a conversa em reuniões de comitês. Com a ajuda de seus
alunos, Pentland, professor de artes e ciências da comunicação no
MIT, vem equipando pessoas em bancos, universidades e outros locais
com celulares inteligentes personalizados ou com etiquetas finas
repletas de sensores que elas usam por dias ou até meses.
Enquanto as pessoas conversam, os
sensores recolhem dados sobre os tempos de fala, sua energia e
variabilidade, diz Pentland. O professor, conhecido pelo apelido
Sandy, diz que seu processo de coleta e processamento de dados
conversacionais e outros deveria ser definido como "mineração de
realidade - usar os mesmos algoritmos que empregamos em sistemas de
mineração de dados a fim de avaliar o mundo analógico das interações
sociais". As ferramentas que ele desenvolveu podem ajudar as pessoas
a mudar suas táticas de comunicação, incluindo aquelas que resultam
em dinâmicas contraproducentes no local de trabalho, diz David
Lazer, professor associado de política pública na Escola Kennedy de
Administração Pública, na Universidade Harvard.
Lazer elogiou a riqueza de dados
propiciada pelo processo - "os dados atualizados minutos a minuto e
bem detalhados que determinam se você está falando, com quem você
prefere falar, qual é o tom que você adota e se você costuma
interromper", por exemplo. Esse tipo de ferramenta é raro, diz
Laser. "Nossas ferramentas de pesquisa existentes para esse fim não
são muito boas", ele diz - por exemplo, questionários nos quais as
pessoas mesmas relatam suas conversas. A mineração de realidade pode
ser mais precisa e tem o potencial de exibir "toda sorte de padrões
interativos que podem não ficar evidentes para os indivíduos de uma
organização", ele disse.
Muitas das pesquisas de Pentland com
os celulares e as etiquetas portadoras de sensores são discutidas em
seu mais recente livro, Honest Signals, publicado
recentemente pela MIT Press. As etiquetas utilizam ferramentas que
incluem sensores de infravermelho para determinar quando as pessoas
estão contemplando umas às outras,
acelerômetros para registrar gestos e microfones e sistemas de
processamento de sinais de áudio para capturar o tom de voz. Com
esse conjunto de sensores, as etiquetas podem detectar o que
Pentland define como "sinais honestos, comportamento inconsciente de
sinalização face a face" que sugere, por exemplo, quando as pessoas
acompanham as falas dos demais de forma ativa e enérgica e quando
não o fazem. Ele argumenta que esses sinais implícitos são
ocasionalmente tão importantes para a comunicação quanto as palavras
e a lógica.
Por exemplo, a etiqueta registra
quanto os ouvintes respondem com acenos regulares de cabeça ou
exclamações como "certo". Essas respostas, ele argumenta, são uma
espécie de comportamento de espelho que pode ajudar a construir
empatia entre quem fala e o ouvinte. Ele também examina os padrões
de alternância na fala, nas conversações, bem como os gestos e
outros sinais muitas vezes inconscientes. Os celulares inteligentes
do futuro poderão tirar vantagem dessa tecnologia para funcionar
como assistentes pessoais amistosos, aceitando automaticamente
telefonemas de amigos e familiares e encaminhando outros chamados
diretamente ao correio de voz. "O
celular pode se tornar uma espécie de mordomo, quando aprender a
conhecer seu dono", ele disse, por exemplo ao soar com um toque em
volume alto em caso de telefonema urgente mesmo que o dono tenha se
esquecido de acionar o som.
A pesquisa tomou diversas
providências para garantir que as identidades dos participantes
permanecessem anônimas, disse Anmol Madan, um dos alunos de
pós-graduação orientados por Pentland. Por exemplo, quando dados são
recolhidos por um microfone de áudio, este captura o tom e a duração
da fala mas não as palavras em si. Até o momento, Madan vem
constatando que os dados capturados pelos celulares são bem mais
precisos do que relatos sobre as mesmas informações fornecidos pelos
participantes. "Os seres humanos estão sujeitos a severas distorções
ao relembrar seu comportamento", ele diz.