Por enquanto, o avanço na tecnologia
de armazenagem que a GE está anunciando funciona apenas em
laboratório. Será preciso adaptar a nova tecnologia ao uso em
produtos que possam ser produzidos em massa e vendidos a preços
acessíveis.
Mas os especialistas em sistemas de
armazenagem óptica e analistas setoriais que foram informados sobre
o desdobramento afirmam que o método promete ser um grande passo
adiante na armazenagem digital, e que ele oferece ampla gama de usos
potenciais nos mercados comercial, científico e ao consumidor.
"Podemos estar diante da próxima
geração de sistemas de armazenagem de baixo custo", disse Richard
Doherty, analista da Envisioneering, uma empresa de pesquisa sobre
tecnologia.
O trabalho promissor realizado pelos
pesquisadores da GE envolve o campo da armazenagem holográfica. A
holografia é um processo óptico que não só permite armazenar imagens
tridimensionais, como as que existem em muitos cartões de crédito
para propósitos de segurança, como também os zeros e uns que servem
como unidades básicas de informação digital.
Os dados ficam codificados em padrões
de luz armazenados em um material sensível à luz. Os hologramas
funcionam como espelhos microscópicos que refratam os padrões
luminosos quando um feixe de luz laser os atinge, e assim os dados
armazenados em cada holograma podem ser recuperados e decodificados.
A armazenagem holográfica tem a
capacidade de condensar dados de maneira muito mais concentrada do
que a tecnologia óptica convencional, usada nos DVDs e nos discos
Blu-ray, mais recentes e de capacidade ampliada. Nesses produtos, os
dados são armazenados em um padrão de marcas gravadas a laser
distribuídas pela superfície do disco.
Até o momento, a armazenagem
holográfica não era vista como um caminho de pesquisa que poderia
vir a encontrar uso amplo. Mas o trabalho da GE pode representar o
passo pioneiro para isso, de acordo com analistas e especialistas.
Os pesquisadores da GE utilizaram uma abordagem diferente da que
havia sido utilizada em esforços anteriores. Ela depende de
hologramas menores e menos complexos - uma nova técnica conhecida
como armazenagem micro-holográfica.
Um desafio crucial para a equipe, que
está trabalhando no projeto desde 2003, era o de encontrar materiais
e técnicas que permitissem que os hologramas menores refletissem luz
suficiente para que seus padrões de dados pudessem ser detectados e
recuperados.
Os recentes avanços da equipe, que
trabalha no laboratório da GE em Niskayuna, Nova York, ao norte de
Albany, representam aumento de 200 vezes no poder de reflexão dos
hologramas, o que os coloca ao alcance das frequências luminosas
hoje legíveis por aparelhos de Blu-ray.
"Estamos perto do necessário", disse
Brian Lawrence, o cientista que comanda o programa de armazenagem
holográfica da GE. "Nós já atravessamos a barreira da legibilidade".
Na abordagem desenvolvida pela GE, os
hologramas ficam dispersos por um disco em formato semelhante ao dos
atuais CDs, DVDs convencionais e discos Blu-ray. Com isso, um
aparelho capaz de ler os discos de armazenagem micro-holográfica
também seria capaz de ler CDs, DVDs e discos Blu-ray. Mas os discos
holográficos, com a tecnologia que a GE desenvolveu, poderiam
armazenar até 500 gigabytes de dados. Os discos Blu-ray armazenam 25
ou 50 gigabytes, e um DVD comum apenas cinco gigabytes.
"Caso isso realmente possa ser
colocado em prática, o trabalho da GE promete oferecer imensa
vantagem na comercialização da tecnologia de armazenagem
holográfica", disse Bert Hesselink, professor da Universidade
Stanford e especialista nesse campo de pesquisa.
A equipe da GE planeja apresentar
seus dados de pesquisa e resultados de laboratório em uma
conferência sobre armazenagem óptica de dados em Orlando, Flórida,
no mês que vem.
No entanto, dizem os analistas, a
viabilidade prática da tecnologia da GE ainda não foi provada, e
pouco se sabe sobre os aspectos econômicos envolvidos.
A empresa se concentrará inicialmente
em vender a tecnologia em mercados comerciais, como estúdios de
cinema, redes de televisão e centrais de pesquisa médica e
hospitais, para armazenar imagens que requerem uso pesado de dados,
como filmes de Hollywood e tomografias cerebrais. Mas vender a
tecnologia a um mercado empresarial mais amplo e diretamente ao
consumidor é a meta final.
Para tanto, a GE terá de trabalhar
com parceiros a fim de licenciar sua tecnologia e seu conhecimento
de armazenagem holográfica, e a empresa já está negociando com
grandes fabricantes de eletrônicos e de sistemas de armazenagem,
disse Bill Kernick, que comanda a divisão de vendas de tecnologia da
GE. A pesquisa holográfica era inicialmente parte do trabalho da GE
com plásticos, em uma divisão que a companhia vendeu dois anos atrás
à Saudi Basic Industries, por US$ 11,6 bilhões.