Concreto que não
agride o meio ambiente
Por sobre o rio Mississipi,
logo ao leste do centro de Minneapolis, existe uma notável obra em
concreto. Lá, na Rodovia Interestadual 35W, a ponte de St. Anthony
Falls sustenta 10 faixas de rodagem por sobre uma estrutura metálica
apoiada por grandes arcos, por sua vez ancorados por bases e estacas
profundas.
A ponte, construída para substituir
aquela que desabou em 2007 e causou a morte de 13 pessoas, é quase
toda construída de concreto que incorpora barras de reforço de aço,
conhecidas como "rebar". Mas não se trata de uma estrutura
monolítica. Os componentes foram produzidos com diferentes misturas
de concreto, com receitas alteradas, como faria um grande chefe de
cozinha, a fim de atender a requisitos específicos de força e
durabilidade e ao mesmo tempo reduzir o impacto sobre o meio
ambiente.
Uma das misturas, incorporada a
esculturas ondulantes nos dois extremos da ponte, foi criada para se
manter branca e brilhante, por meio da absorção de poluentes
atmosféricos que causariam desgaste à estrutura. O projeto, cujo
custo excedeu os US$ 230 milhões e teve sua construção concluída em
setembro, três meses antes do prazo, "talvez tenha sido a mais
complexa obra em concreto dos Estados Unidos em 2008", disse Richard
Stehly, diretor da American Engineering Testing, uma empresa de
Minneapolis que participou do trabalho. Trata-se de um exemplo
importante das grandes mudanças em curso na produção e uso do
concreto - mudanças que fazem uso de pesquisas básicas e têm por
base, ao menos em parte, a necessidade de reduzir as emissões de
carbono associadas ao uso do concreto.
O concreto pode parecer um material
improvável para avanços científicos. É um material que não desperta
interesse. Os componentes básicos são a mistura áspera, em geral
cascalho, e a mistura fina, em geral areia. Com o acréscimo de água
e de cimento Portland, o concreto está pronto e dura décadas.
A produção anual de concreto é de
cerca de um metro cúbico anual por habitante do planeta, todos os
seis bilhões deles. A calçada diante de sua casa? Esse é a porção de
concreto que cabe a você e seu cônjuge. O caminhão de concreto que
passa fazendo barulho na rua? Carrega um metro cúbico por integrante
do time do New York Yankees. Se acrescentarmos os times do Boston
Red Sox e do New York Mets, isso é concreto suficiente para a
fundação de uma casa e o piso do porão.
Mas esses são projetos pequenos. A
ponte de St. Anthony Falls usou cerca de 40 mil metros cúbicos de
concreto, e a represa Hoover mais de 2,4 milhões. E o projeto da
hidrelétrica de Três Gargantas, na China, ultrapassa os 27 milhões
de toneladas.
O concreto parece sempre igual, e o
produto básico na verdade se manteve relativamente inalterado desde
a invenção do cimento Portland, no começo do século 19. (Os antigos
romanos também produziam concreto, mas com cinza vulcânica.) Os
produtores sempre alteraram a mistura para encontrar as proporções
corretas dos ingredientes básicos, mas a receita nunca variou muito.
Agora, as experiências são mais
elaboradas e têm por objetivo adaptar o concreto às necessidades.
Mesmo desconsideradas as preocupações estéticas, o concreto é feio
em termos ambientais. A fabricação de cimento Portland responde por
cerca de 5% das emissões humanas de dióxido de carbono, um dos
principais gases do efeito-estufa. "A mudança que aconteceu nos
últimos 10 anos é tentar evitar materiais que gerem CO2", diz Kevin
MacDonald, vice-presidente de serviços de engenharia da Cemstone
Products, que forneceu o concreto para ponte da I-35W.
Em suas misturas, MacDonald
substituiu boa parte do cimento Portland por dois produtos de
resíduos industriais ¿a cinza deixada pela queima de carvão em
usinas termelétricas e os resíduos de altos-fornos siderúrgicos. São
dois exemplos das chamadas pozolanas, materiais reativos que ajudam
a fortalecer o concreto. Porque as emissões de CO2 a eles associadas
são computadas como parte da geração de eletricidade e produção de
aço, seu uso ajuda a reduzir as emissões geradas pela produção de
concreto.
Alguns engenheiros e cientistas estão
indo mais longe, com o objetivo de desenvolver concreto que possa
capturar e reter permanente o CO2 emitido por usinas de energia e
outras fontes, de modo que o material deixe de contribuir para o
aquecimento do planeta. Dados os números envolvidos, as
possibilidades desse método de retenção de dióxido de carbono são
imensas.
A grande feira anual do setor de
concreto dos Estados Unidos, realizada em Las Vegas a cada inverno,
é conhecida como World of Concrete, e por bons motivos. O concreto é
produzido e usado em quase toda parte, e a China responde por cerca
de metade da produção mundial.
A produção do concreto, o cimento
Portland e a água formam uma pasta na qual uma série de reações
ocorre, o que leva ao endurecimento da pasta e à retenção de
agregados em seu interior. Essas reações usam a água - o concreto
não seca por evaporação- e tornam o produto cáustico. Embora o
processo de fortalecimento em geral ocorra nos primeiros dias e
semanas, ele pode se prolongar por anos, enquanto houver alguma
umidade.
Michelle Wilson, diretora de
informações sobre concreto na Associação do Cimento Portland, uma
organização setorial, descreve uma partícula de cimento em
hidratação da seguinte forma: "Não é como uma pipoca, que se expande
do interior; é mais como uma bala em camadas - quando a água atinge
o material, a hidratação acontece em camadas, de fora para dentro. É
possível continuar hidratando o material".
O concreto pode ser modificado por
meio do acréscimo de outros materiais e produtos químicos. As
receitas se tornaram muito mais sofisticadas, com o passar dos anos,
diz Jay Shilstone, consultor especializado em concreto, em Plano,
texas.
"Os produtos químicos acrescentados
ao concreto eram sabões ou açúcares ¿muito simples", diz Shilstone.
"Agora, estão sendo desenvolvidos compostos químicos especializados
para trabalhar sobre determinados componentes".
Alguns desses componentes fazem com
que o concreto líquido flua melhor pelos desvãos de uma forma, sem
se separar. Outros impedem que as partículas de cimento se
aglutinem, o que permite redução no volume de água, e implica que
menos cimento seja necessário, igualmente. Podem ser usados produtos
químicos que retardem as reações, de forma a oferecer mais tempo de
trabalho com o concreto em forma líquida aos construtores.
Isocianatos e outros catalisadores podem acelerar as reações, caso
seja necessário que o concreto atinja determinada resistência em um
período curto.
Os engenheiros também dedicam cada
vez mais atenção à estrutura interna do concreto, a fim de melhorar
sua força e reduzir a permeabilidade. "Grandes esforços estão em
curso para determinar a distribuição de tamanho de partículas",
disse Shilstone.
MacDonald acrescentou resíduos de
sílica, outro resíduo industrial, à mistura de concreto usada nos
arcos estruturais da ponte, a fim de reduzir a vulnerabilidade do
concreto ao sal usado para degelar as pistas de rodagem, que corrói
o rebar e termina por destruir o concreto de dentro para fora.
O Italcementi Group, um dos grandes
produtos de cimento, acrescenta partículas de dióxido de titânio a
um de seus produtos. Esse cimento cria concreto branco ao agir como
catalisador, sob o efeito da luz solar, e dissolver os poluentes
orgânicos na atmosfera.
"O composto acelera o processo
natural de oxidação", diz Dan Schafer, gerente de produto da Essroc,
subsidiária da Italcementi que forneceu o cimento para as esculturas
da ponte. Alguns pesquisadores desejam um dia eliminar completamente
o uso de cimento Portland, para criar concreto com emissão zero ou
até mesmo concreto com emissões negativas.
Em um local adjacente a uma usina
elétrica acionada a gás, na Califórnia, a Calera está desenvolvendo
um processo que conduziria os gases de chaminé da usina por um
recipiente contendo água marinha; o CO2 dos gases criaria bolhas e
isso precipitaria minerais carbonatos que poderiam ser usados como
cimento ou agregados no concreto.
Em certa medida, o processo imita o
que os corais e outros organismos marinhos calcificantes fazem. A
Calera calcula que produzir uma tonelada desses minerais consumiria
meia tonelada de CO2, e por isso o concreto resultante poderia ter
emissões abaixo de zero - ou seja, reteria dióxido de carbono
permanentemente.
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Fonte:
noticias.terra.com.br
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