O acordo dividiu a América do Sul e
causou alerta entre a maioria dos países, incluindo o Brasil, que
pediu mais explicações sobre o pacto.
Apesar do acordo militar ter sido
foco central de boa parte das discussões da cúpula, a Declaração de
Quito, assinada nesta segunda-feira pelos presidentes e
representantes dos doze países da Unasul, apenas adia a discussão
para uma nova reunião, em 24 de agosto, com ministros de Relações
Exteriores e da Defesa dos países.
O texto estuda ainda a possibilidade
de uma cúpula extraordinária em Buenos Aires, na Argentina. A cúpula
incluiria um convite enviado ao presidente colombiano Álvaro Uribe,
que não participa da Unasul porque Colômbia e Equador romperam
relações diplomáticas em março de 2008, depois de forças colombianas
invadirem o país vizinho para aniquilar um acampamento e um líder
das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Se aprovado, o acordo permitirá aos
EUA manter 1.400 pessoas, entre militares e civis, em bases na
Colômbia, pelos próximos dez anos. Os dois aliados afirmam que o
acordo não é novo, mas apenas uma extensão do acordo de combate ao
narcotráfico e às Farc chamado de Plano Colômbia; e argumentam que
todas as bases permanecerão sob o controle colombiano.
Mais cedo, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva falou na 3ª Reunião Ordinária do Conselho dos chefes
de Estado e de Governos da Unasul, em Quito, sobre a possibilidade
de realizar uma cúpula extraordinária do órgão para debater a
presença militar dos EUA na Colômbia.
O brasileiro, além de questionar a
finalidade do acordo militar EUA-Colômbia, ainda critica a Quarta
Frota Naval dos EUA, reativada ano passado, sob o então presidente
George W. Bush (2001-2009), com o intuito de atuar na América do
Sul, na América Central e no Caribe. Para Lula, a área de atuação da
frota alcança o pré-sal brasileiro --campos de petróleo localizados
a quase 7.000 metros de profundidade, nas águas entre Espírito Santo
e Santa Catarina.
O presidente do Equador, Rafael
Correa, que assume nesta segunda-feira a Presidência rotativa da
Unasul, advertiu que tal acordo é "extremamente grave" e constitui
"provocação aberta aos países que já foram agredidos".
Por sua vez, a argentina Cristina
Kirchner falou sobre a situação de "beligerância" da região. "Há
fatores endógenos e exógenos" que criam "uma situação" de riscos,
afirmou Cristina, e considerou ser necessário que o colombiano Uribe
participe das discussões. É preciso "acabar com as desculpas" e
garantir a presença de Uribe, declarou Cristina.
As maiores críticas vieram do Equador
e da Venezuela, que acusam a medida de representar uma ameaça para a
estabilidade regional.
"Ventos da guerra começaram a
soprar", afirmou nesta segunda-feira o presidente venezuelano Hugo
Chávez, na Cúpula da Unasul.
Chávez e o colega boliviano, Evo
Morales, queriam que a Unasul incluísse uma condenação à Colômbia
pela pacto com os americanos, mas o pedido não encontrou apoio nos
países mais moderados.
Na semana passada, Uribe visitou sete
países da região, entre eles Argentina e Brasil, para explicar o
acordo que negocia com os EUA. A reação, contudo, foi fira na maior
parte dos países --que ressaltaram a soberania da Colômbia para
definir um acordo do tipo, mas alertaram para os riscos na tensão
regional.