Oficialmente, não houve justificativa
para a saída da secretária. Entre os motivos, estaria a disputa
entre a Receita e a Petrobras, em relação a uma mudança contábil
feita pela estatal no final de 2008 e que permitiu uma redução de R$
4 bilhões no recolhimento de impostos. Essa questão foi um dos
motivos usados pela oposição para a criação da CPI da Petrobras.
Outra justificativa seria a queda na
arrecadação. Mas o governo afirmou que esse era um problema causado
pela desaceleração da economia e não pelo desempenho do órgão.
No dia 9 de agosto, em entrevista à
Folha, Lina Vieira afirmou que, em um encontro a sós no final
do ano passado, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) pediu a ela
que a investigação realizada pelo órgão nas empresas da família do
presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), fosse concluída
rapidamente.
Na entrevista, a ex-secretária disse
que entendeu o pedido como um recado "para encerrar" a investigação.
Na ocasião, a Casa Civil negou por meio da sua assessoria de
imprensa que Dilma "jamais pediu qualquer coisa desse tipo à
secretária da Receita Federal".
No dia seguinte à declaração de Lina,
Dilma negou que tenha se encontrado com a ex-secretária para pedir
rapidez nas investigações contra as empresas da família do
presidente do Senado. "Encontrei com a secretária da Receita várias
vezes e com outras pessoas junto em grandes reuniões. Essa reunião
privada a que ela se refere eu não tive", afirmou.
Apesar da negativa de Dilma, Lina
Vieira reafirmou à Folha que o encontro existiu. "Ela sabe
que eu estive lá e sabe que falou comigo. A Erenice [Guerra,
secretária-executiva da Casa Civil] também, porque esteve no meu
gabinete para marcar. Não custava nada ela ter dito a verdade. Qual
a dificuldade? Na minha biografia não existe mentira", declarou.
Lina disse ainda que "Erenice pediu o
encontro e que era para ser sigiloso", por isso não foi acompanhada
de assessores. "Estive lá, antes a chefe de gabinete dela foi ao meu
gabinete, agendou isso para ser uma coisa informal, que não
constasse nem da minha agenda nem da dela. Eu cheguei pela garagem,
entrei sem identificação, conversei com ela e voltei."
A partir da entrevista, senadores da
oposição passaram a defender que Lina Vieira esclarecesse suas
afirmações sobre as investigações da Polícia Federal relacionadas à
família do senador José Sarney em comissões no Senado.
No dia 12 de agosto, a oposição
aproveitou um cochilo dos governistas e conseguiu aprovar convite
para que a ex-secretária da Receita Federal prestasse depoimento à
CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado. O depoimento foi
marcado para hoje (18).
Na quinta-feira (13), a chefe de
gabinete do secretário da Receita Federal, Iraneth Dias Weiler,
confirmou em entrevista à Folha detalhes das declarações que
a ex-secretária Lina Maria Vieira fez sobre encontro que teria tido
com a ministra Dilma Rousseff.
Iraneth também confirmou que Erenice
Guerra, secretária-executiva da Casa Civil, foi ao gabinete de Lina
no final do ano passado. Ela entrou pela porta do corredor, não
passou pelas secretárias. Não foi uma coisa que constava da agenda."
A Casa Civil da Presidência da
República divulgou nota negando que a secretária-executiva da pasta,
Erenice Guerra, esteve no gabinete da ex-secretária da Receita
Federal Lina Maria Vieira para marcar um encontro com a ministra
Dilma Rousseff.
Segundo o documento, a única vez que
Erenice esteve na Receita foi em 19 de maio de 2009, na sala de
reuniões, com a presença do ministro Guido Mantega (Fazenda) e de
assessores da Receita Federal.
Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva desafiou Lina Vieira a mostrar sua agenda para provar o
encontro que supostamente teria tido com a ministra.