Em depoimento à CCJ (Comissão de
Constituição e Justiça) do Senado, Lina Vieira disse que está
disposta a sentar lado a lado da ministra para apresentar sua versão
dos fatos. "Estou disposta a qualquer coisa que possa ajudar a
esclarecer [o encontro]", afirmou.
O senador Pedro Simon (PMDB-RS), que
questionou a ex-secretária sobre a acareação, disse não passar pela
sua cabeça que Lina Vieira inventou um encontro com Dilma. "Eu tenho
o maior respeito pela senhora. Não passa pela minha cabeça que Vossa
Excelência iria inventar uma coisa dessas, não ia ganhar coisa
nenhuma. Mas não dá para entender porque a ministra não pode dizer",
afirmou.
Lina Vieira prestou depoimento por
mais de três horas à CCJ e confirmou a versão revelada à Folha
de que Dilma lhe pediu para agilizar as investigações da Receita
sobre a família Sarney. Ao encerrar o depoimento, a ex-secretária
disse que fala a verdade e está disposta a provar a sua versão dos
fatos --uma vez que o encontro é negado por Dilma.
"Eu não mudo a verdade no grito, nem
preciso de agenda para dizer a verdade. A mentira não faz parte da
minha biografia", afirmou.
A ex-secretária classificou o pedido
da ministra de "incabível". "Eu só achei o pedido da ministra
incabível porque a Receita trabalha com critérios. Não há
necessidade de ninguém pedir nada para a Receita. A Receita é uma
instituição de Estado. Não estamos ali para atender governo A, B ou
C. Essa é nossa posição. É incabível porque a Receita trabalha com
informações impessoais", afirmou.
Lina disse que, depois que Dilma lhe
pediu para agilizar as investigações sobre a família Sarney,
retornou à Receita Federal para analisar o processo --mas constatou
que a Receita já havia acelerado as investigações a pedido do Poder
Judiciário.
"Eu pedi ao meu subsecretário que me
desse as informações a respeito das fiscalizações que estavam sendo
tocadas pela Receita. Eu não disse a ele o assunto, eu não disse a
ninguém o assunto. Depois que eu retornei, eu fui apurar. Pedi um
relatório geral de fiscalizações, eu não comentei nenhum tipo de
assunto", afirmou.
A ex-secretária disse que dois
servidores da Casa Civil, um homem e uma mulher, a viram entrar no
gabinete de Dilma no final do ano passado. "Eu não sou fantasma, eu
tomei café, me serviram café. Certamente há registros de que eu
estive lá", afirmou.
Apesar de Dilma negar o encontro,
Lina Vieira apresentou detalhes de sua conversa com a ministra.
"Cheguei no quarto andar do palácio,
não tinha ninguém me recebendo. Veio a Erenice Guerra
[secretária-executiva da Casa Civil], fui para sala onde estavam
duas pessoas e ali fiquei aguardando. Eu não perguntei o nome dessas
pessoas. Tomei uma água, um café. Não demorou muito. Dali eu saí e
fui para a sala da ministra conduzida pela Erenice. Nós conversamos
amenidades. Como foi muito rápido, eu não me lembro dos móveis, ela
só me fez esse pedido. Foi simpática", afirmou.