Dae-jung foi o primeiro político da
Coreia do Sul a se reunir com o ditador norte-coreano, Kim Jong-il,
durante a histórica cúpula de 2000 em Pyongyang. A iniciativa foi
copiada por seu sucessor na Presidência, Roh Moo-hyun, em 2007.
Na reunião de então, foi assinado um
acordo histórico que favoreceu a reconciliação nacional, a
diminuição das tensões militares e a cooperação econômica, além de
ter facilitado o reencontro de famílias separadas à força pela
guerra.
Poucos meses após sua visita ao
Norte, recebeu o Prêmio Nobel da Paz "por seu trabalho pela
democracia e os direitos humanos na Coreia do Sul e pela paz e a
reconciliação com a Coreia do Norte".
O ex-presidente era muito respeitado
por seu histórico de luta pela democracia em um país que viveu sob
uma ditadura até meados dos anos 80, período em que ele mesmo sofreu
várias tentativas de assassinato, uma condenação à morte e ficou
exilado por um longo tempo.
Foi também o primeiro presidente a
chegar ao poder à frente da oposição progressista, já com mais de 70
anos, após passar uma década em prisão domiciliar, cinco anos na
prisão e vários outros no exílio.
Sua carreira como ativista
democrático começou pouco após o fim da Guerra da Coreia
(1950-1953). Ele atuou como defensor da democracia em plena sucessão
de ditaduras militares, até meados dos anos 80.
Declarado inimigo político do então
ditador sul-coreano, o general Park Jung-hee, em 1973 foi
sequestrado em Tóquio em uma tentativa de assassinato encoberta pelo
serviço secreto do país. A espionagem americana evitou sua morte.
Outro dos episódios decisivos em sua
vida foi o papel que teve nos protestos pró-democráticos de Gwangju
contra o mandato de outro general, Chun Doo-Hwan, nos quais 200
pessoas morreram após uma sangrenta repressão.
Kim foi condenado à morte por
encorajar o protesto, mas depois a pena foi reduzida a 20 anos de
prisão. Ele acabou ficando no exílio até 1985, ano do começo da
transição democrática na Coreia do Sul.
Foi vencedor das eleições em 1997 com
40% dos votos e pela primeira vez um partido opositor e progressista
tomou o poder na Coreia do Sul, o que inaugurou um período de dez
anos de governos reformistas.
O então líder tirou o país da crise
financeira e apostou na aproximação intercoreana com uma política de
reconciliação ambiciosa que nunca antes tinha sido tentada.
Crise
No entanto, Kim Dae-jung não ficou de
fora da polêmica que costuma cercar todos os presidentes
sul-coreanos e se viu envolvido em escândalos de corrupção familiar.
Em 2003, revelou-se que a reunião de
Pyongyang foi, em parte, graças a um pagamento de US$ 500 milhões ao
regime comunista.
Sua morte foi muito sentida pelo povo
coreano que o respeitava, apesar de ter se posicionado claramente
contra o atual chefe de Estado, o conservador Lee Myung-bak.
"Perdemos um grande líder. O povo
lembrará dele por seu compromisso com a democracia e a reconciliação
nacional", disse Lee nesta terça-feira.