O assunto foi discutido ontem no
plenário da Câmara dos Deputados, convertido em comissão geral para
debater a proposta (PEC 231), que se arrasta há 14 anos. A PEC prevê
a diminuição de 44 para 40 horas semanais trabalhadas, sem mudança
nos salários, e a elevação do adicional pago pela hora extra de 50%
para 75%.
"Vamos trabalhar para fazer um
acordo. Neste momento, é conversar", afirmou o deputado e relator do
projeto substitutivo, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP).
"O trabalhador só não vai abrir mão da redução da jornada." A
reunião não foi conclusiva. Os trabalhadores defenderam que a
mudança vai viabilizar a criação de 2,5 milhões de empregos. Os
empresários alegaram que não há pesquisa que comprove essa tese e
que a medida só contribuirá para aumentar os custos, que seriam
repassados aos preços.
Em defesa da redução da jornada, o
ministro do Trabalho, Carlos Lupi, destacou que as ponderações dos
empresários não se justificavam em números. Disse que o impacto da
redução da jornada para as empresas subiria 1,99%, com o custo da
folha passando de 22% para 23,99%. "É número. Não é opinião
ideológica."
A avaliação é de que esse custo seria
absorvido pelo aumento da produtividade das empresas nos últimos
anos. "Não podemos transformar isso numa disputa entre empresário e
empregado. Não podemos discutir sobre o ponto de vista de que
significa a falência. Porque isso não é o mundo real", acrescentou.
Do lado do empresariado, o presidente
da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto,
rebateu a crítica e disse que o impacto da medida para a geração de
emprego não é previsível. "Isso é uma falácia." A presidente da
Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Kátia Abreu, concordou.
"Não adianta fazer economágica. Não podemos perder o foco.
Precisamos saber o benefício disso."
Para o presidente da Central Única
dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva, a redução da
jornada vai tornar possível investir, por exemplo, em qualificação
da mão de obra. Segundo ele, esse é um pedido em toda negociação
salarial que nunca é atendido.
Mas ainda não há data para votação da
matéria. Para o presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), o
projeto é bastante polêmico e não poderia ser levado à votação sem
esse debate. A votação vai depender de acerto entre os líderes dos
partidos na Câmara.
O deputado e presidente da Força
Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), Paulinho, disse que só
falta a assinatura do líder do DEM para que o assunto seja tratado
com regime de urgência. "Queremos votar. Vamos ver quem vai ficar
com quem paga as eleições ou com quem vota, o trabalhador."