Nesta segunda-feira, o bloco africano
abandonou as negociações após denunciar que os países
industrializados estão tentando "matar" o Protocolo de Kyoto ao
tentar carimbar um acordo mais amplo que inclua compromissos
vinculativos de redução de emissões poluentes às nações emergentes.
A presidência dinamarquesa dedicou a
manhã para reunir-se com os grupos regionais da cúpula, diante da
chegada de 50 ministros do Meio Ambiente, situação que incomodou
blocos como o africano, porque gerou o cancelamento das sessões
plenárias.
O presidente do grupo, o delegado
argelino Kamel Djemouai, denunciou que a presidência dinamarquesa
trata de forma separada (quando convém) e misturada elementos das
duas vias de negociação, a de Kyoto e a da Convenção Marco da ONU.
"Se aceitarmos esta situação,
assinaremos a morte de Kyoto, o único documento legalmente
vinculativo existente", afirmou Djemouai.
A saída africana era minimizada pelo
secretário-executivo da conferência, Yvo de Boer. Segundo ele, a
presidente da conferência, a dinamarquesa Connie Hedegaard, dedicou
a manhã para coordenar a agenda da conferência com os diferentes
grupos.
Além disso, coletivas de imprensa das
delegações dos EUA e da China, os dois países mais poluentes do
planeta, previstas para hoje, foram canceladas sem motivo, além de
outros compromissos com a imprensa.
O tom das negociações endureceu na
semana passada, diante da negativa dos países emergentes de carimbar
acordos vinculativos --algo que, conforme o Protocolo de Kyoto, só
estão obrigados os países ricos-- mas a apresentação de duas minutas
de trabalho acalmou os ânimos.
As delegações da China e dos EUA se
enredaram em uma particular guerra interna, ao atribuírem um ao
outro os maiores compromissos ambientais, enquanto os países menos
desenvolvidos se uniram ao pedido das nações ricas para que também
os emergentes se comprometam de forma vinculativa.
Boer insistiu hoje que a cúpula "não
foi suspensa" e anunciou que a presidência tinha aberto consultas
informais de "final aberto" para buscar o consenso dos "temas" do
documento final.
As 192 delegações buscam firmar um
acordo internacional de redução de emissões de dióxido de carbono
(COº2º) por parte dos países ricos, que substitua o Protocolo de
Kyoto, uma vez que a primeira parte deste termina em 2012, e que
fixe os fundos necessários para que os países em vias de
desenvolvimento façam frente à mudança climática.
A cúpula da ONU assistiu ao caos na
sua organização a partir desta manhã com a chegada de uma avalanche
de assistentes de 50 ministros do Meio Ambiente que participarão da
reunião dinamarquesa.
A organização comunicou que foram
credenciadas mais de 43 mil pessoas para a cúpula, das quais, até
hoje, 22 mil credenciais já foram emitidas.
Por questões de segurança, o Bela
Center, sede da conferência, só pode receber 15 mil pessoas, mas
nesta segunda-feira já haviam emitido mais de 20 mil bilhetes de
ingressos ao local, conforme um porta-voz da ONU.
ONGs e prisões
A organização comunicou no sábado que
a partir de amanhã será limitado o acesso às ONGs, por causa da
chegada de 110 chefes de Estado e de governo.
O caos na organização gerou um
protesto de 3 mil pessoas em frente à entrada do prédio depois que
estas ficaram de fora do Bela Center, após oito horas de espera em
temperaturas próximas de zero grau.
Os organizadores lamentaram os
incidentes, mas afirmaram que com a presença dos líderes mundiais, o
acesso sofrerá sérias restrições, principalmente para ONGs e
jornalistas.
Um protesto, convocado pela
organização Climate Justice para defender a abertura de fronteiras e
contra a indústria militar, transcorreu pelo centro da cidade, gerou
enfrentamentos e tumultuou o centro da cidade também.
Durante o protesto, 17 pessoas foram
presas. Pelo menos 15 ativistas foram detidos de forma preventiva
antes do início da caminhada e os outros foram detidos por porte
ilegal de armas e agressão a um agente.
O objetivo inicial era chegar até a
sede do Ministério dinamarquês de Defesa, mas ao passarem na altura
da Praça do Parlamento ocorreram enfrentamentos entre os agentes e
os ativistas e a concentração acabou sendo dissolvida minutos
depois.
A grande maioria das prisões ocorreu
dentro de uma detenção administrativa preventiva para evitar
hipotéticos incidentes, um recurso muito criticado pelas ONGs e
organizações como Anistia Internacional.