Presidente da
Itália permite eutanásia de Eluana
O presidente da Itália, Giorgio
Napolitano, informou nesta sexta-feira que se recusa a assinar o
decreto-lei aprovado pelo Conselho de Ministros do país que permitir
impedir a eutanásia de Eluana Englaro, 37, há 17 anos em estado
vegetativo. "O texto aprovado não desfaz objeções de
inconstitucionalidade indicadas, e o presidente considera que não
pode aprová-lo", afirmou uma nota da Presidência.
O decreto-lei foi
aprovado por unanimidade nesta sexta-feira em votação urgente
realizada no Conselho de Ministros, que é presidido pelo premiê
Silvio Berlusconi. O texto proibiria a clínica La Quiete, da cidade
de Udine, de suspender a alimentação de Eluana --procedimento que,
na realidade, começou na manhã desta sexta-feira, de acordo com os
médicos da italiana.
Mais cedo, em carta a Berlusconi, o
presidente já havia dito que vetaria o decreto-lei quando ele
chegasse às suas mãos. Depois da aprovação no Conselho de Ministros,
o premiê ainda tentou pressionar o presidente dizendo, em
entrevistas, que se o decreto não solucionasse a questão, iria ao
povo "pedir a mudança da Constituição e do governo".
Não adiantou. Napolitano ateve-se ao
argumento que dera a Berlusconi em sua carta. Nela, Napolitano
presidente afirmava, com base na jurisprudência italiana, que o
decreto-lei jamais poderia se contrapor a uma sentença judicial
transitada em julgado (ou seja, sem chance de apelação), como a de
Eluana; e sugerira que o governo concentrasse esforços na criação de
uma legislação sobre o chamado "testamento de vida".
Na Itália, pacientes têm o direito de
recusar tratamento enquanto vivos, mas não existe uma lei que lhes
permita dar orientações sobre qual tratamento gostariam de receber
se ficarem inconscientes. O chamado "testamento de vida" preencheria
essa lacuna.
Se Berlusconi cumprir sua ameaça, o
seu próximo passo será convocar o Parlamento para tentar aprovar, em
um prazo de três dias, "uma lei que contenha a norma de hidratação e
de alimentação prevista no decreto". O premiê diz que a decisão
sobre o caso é urgente porque, depois da lei que impedirá a morte de
Eluana, "todos os cidadãos terão a segurança de que não serão
privados de água e comida em seu estado vegetativo".
Para Berlusconi, a recusa do
decreto-lei foi uma "omissão de socorro".
Batalha
Eluana sofreu um acidente de carro em
1992 que a deixou em estado vegetativo. Há quase uma década, os
familiares dela decidiram pleitear na Justiça autorização para
deixar a moça morrer. Graças à brecha sobre a escolha do tratamento
recebido no estado vegetativo, em 9 de julho de 2008, a Corte de
Recursos de Milão aceitou o pedido pela morte. Três meses depois, a
Corte Constitucional confirmou aquela sentença, encerrando a
possibilidade de recursos.
No começo desta semana, Eluana foi
levada para a clínica Le Quiete, em Udine, nordeste da Itália, que
aceitou realizar o procedimento. Os profissionais são voluntários
que fazem parte de uma ONG favorável à eutanásia de Eluana.
O governo italiano já tentou impedir
a eutanásia diversas vezes. Nesta quarta-feira (4), o ministro da
Previdência Social, Maurizio Sacconi, chegou a afirmar que a clínica
não tinha estrutura suficiente para o procedimento, o que foi
negado. Berlusconi, então, lançou esse decreto-lei aprovado nesta
sexta-feira pelo Conselho de Ministros.
Eutanásia
O protocolo de eutanásia pelo que a
Justiça italiana autorizou Eluana a passar prevê que a alimentação
dada a ela por meio de uma sonda seja reduzida gradualmente, assim
como os medicamentos --exceto pelos anti-convulsivos e sedativos. Na
prática, Eluana deverá morrer de inanição e desidratação, o que pode
levar várias semanas.
Fonte:
folha.uol.com.br
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