RIO - Se o Sambódromo foi
concebido em meio a polêmicas, os desfiles da escolas de samba que
sucederam a monumental obra não ficariam atrás. Em 1984 mesmo, no
ano de inauguração da passarela, a Mangueira, que dividiu o
campeonato com a Portela surpreendeu o público ao voltar na
contramão da Sapucaí após o término de sua espetacular exibição em
que homenageava João de Barro, o Braguinha, com o enredo Yes, nós
temos Braguinha.
A Beija-Flor e Joãosinho Trinta são,
indiscutivelmente, os campeões em produção de carnavais antológicos.
Em 1986, a escola de Nilópolis desfilou debaixo de uma chuva
torrencial que alagou a Sapucaí e fez com que os integrantes
desfilassem com a água quase pelos joelhos. Foi aclamadíssima e
abocanhou o segundo lugar. Três anos depois, lá veio ela de novo com
seu Ratos e urubus, larguem minha fantasia. A Igreja Católica
encrencou com um Cristo esfarrapado concebido pelo mestre Joãosinho.
A Justiça proibiu o carro.
A alternativa foi cobrir a alegoria
com um saco de lixo preto que serviu como pano de fundo para um
cartaz de protesto, que dizia “Mesmo proibido, olhai por nós”. Até
hoje, pairam dúvidas sobre a autoria da inusitada solução. João diz
que a idéia é dele. Laíla, diretor de Carnaval da azul-e-branco
nilopolitana, garante que foi ele o mentor de toda a história. A
Beija-Flor também foi vice-campeã, mas o refrão “Leba - larô - ô ô ô
ô / Ébo - lebará - laiá - laiá - ô” até hoje não sai da boca do
povo.
A Vila Isabel também teve seu momento
de destaque na Sapucaí com Kizomba, a festa da raça, chegando ao
primeiro lugar, em 1988, consagrada por crítica e público.
Igualmente arrebatadora, a Mocidade Independente de Padre Miguel
protagonizou momentos singulares na folia carioca.
Primeiro, quando o saudoso
carnavalesco Fernando Pinto inovou na avenida ao lançar mão de uma
estética futurista para contar o seu Ziriguidum 2001, em 1985.
Depois, quando colocou patinadores vestidos de índios na fictícia
Tupinicópolis, em 1987.
O Carnaval no Sambódromo sempre foi
palco de grandes e boas histórias. A ex-modelo Enoli Lara provocou a
ira dos bem-comportados ao fazer o primeiro nu frontal na avenida na
Festa Profana da União da Ilha, há duas décadas. A Liga, no ano
seguinte, incluiu no estatuto uma cláusula, proibindo tal ousadia.
Desde então, escola que mostra mulher (ou homem) nua de frente,
perde ponto. Alguém se atreve? Para os desinibidos os tapa-sexo
surgiram como um apaziguador de ânimos. Nem tanto ao céu, nem tanto
à terra.
E Lilian Ramos? A beldade cearense
que apareceu sem calcinha ao lado do então presidente Itamar Franco
em 1994. Claro, foi capa de todos jornais e revistas. A festa na
Sapucaí não seria a mesma sem os picantes episódios que marcam ainda
hoje os 25 anos de Sambódromo.