Embora existam apenas cerca de 1,5
mil casos de malária tratados nos EUA a cada ano ¿ praticamente
todos de pessoas que retornaram dos trópicos ¿ a aprovação também
disponibilizará a droga para o exército e americanos que planejam
viajar ao exterior.
Segundo os Centros para Controle e
Prevenção de Doenças, a maioria desses viajantes com malária retorna
de visitas a parentes na África, Índia, Haiti ou América Central.
Cerca de 10% deles viajam como turistas e cerca de 2% como membros
do exército.
A droga, Coartem, é fabricada pela
empresa suíça Novartis. Ela combina artemeter, um derivado da
artemisinina, à lumefantrina, uma droga desenvolvida por cientistas
chineses que não mata os parasitas com tanta rapidez, mas permanece
na corrente sanguínea por mais tempo.
Ao varrer os parasitas que a
artemisinina deixa para trás, a lumefantrina ajuda a impedir uma
resistência que neutralizaria a droga, como aconteceu anteriormente
com as chamadas curas milagrosas como a cloroquina.
A Novartis afirma que a FDA tem
legalmente até sexta-feira para tomar uma decisão. No dia 3 de
dezembro, o comitê conselheiro do órgão, formado por especialistas
independentes, decidiu por 18 votos a 0 em favor da eficácia da
droga. A agência geralmente segue o parecer do comitê.
Sobre a aprovação esperada, a doutora
Claire Panosian, presidente da Sociedade Americana de Medicina e
Higiene Tropical, que trata casos de malária em Los Angeles, disse:
"estou entusiasmada. É um grande avanço termos outra droga
antimalárica nos EUA".
A Novartis vende Coartem à
Organização Mundial de Saúde e a grupos médicos de caridade por
cerca de 80 centavos de dólar por curso de tratamento, valor de
custo, segundo a empresa. A Novartis vendeu 200 milhões de
tratamentos para uso na África e alega ter salvado 500 mil vidas.
O medicamento foi introduzido em
2001; a droga é aprovada em mais de 80 países, incluindo 16
europeus. A Novartis tinha pouco interesse em registrar a droga,
porque seu mercado era muito pequeno e as exigências da FDA eram
custosas ¿ mesmo com isenção da taxa de registro, mais de US$ 1
milhão para uma nova droga, que foi o caso do Coartem.
A Novartis foi pressionada a
registrar a droga porque grande parte do dinheiro dos contribuintes
foi gasto nela após a iniciativa de US$ 1,2 bilhão contra malária do
presidente ter sido aprovada em 2005.
Como a droga está agora sob revisão,
a Novartis ainda não pode vender o remédio para americanos. Em uma
conferência de medicina tropical em Nova Orleans neste mês, o
estande de vendas do Coartem tinha seguranças que impediam qualquer
residente americano de entrar.
O Coartem é administrado apenas
depois que um paciente contrai malária, e não para prevenção.
Mas muitas pessoas que desejam fazer
um safári ou executivos alocados no exterior odeiam os efeitos
colaterais das drogas preventivas, que podem variar de sensibilidade
ao sol a dor abdominal e pesadelos.
Ao invés disso, sugeriu o doutor
Bradley A. Connor, fundador dos Serviços de Saúde para Viagens de
Manhattan, eles podem levar Coartem e se tratar caso tenham uma
febre. É também mais seguro quando visitam países onde drogas
falsificadas são comuns.
Viajantes europeus já fazem isso com
Coartem e os mais sofisticados também carregam um kit de teste que
examina uma gota de sangue para ter certeza de que eles estão com
malária, porque febres, mesmo nos trópicos, podem ser outra coisa.
"A Europa está muito a frente de nós nisso," Connor disse.
O registro do Coartem ajudará também
os militares, que normalmente não podem prescrever drogas sem a
aprovação da FDA, disse o coronel Alan J. Magill, médico e diretor
da divisão de drogas experimentais do Instituto de Pesquisa do
Exército Walter Reed.
A relutância em tomar drogas de
prevenção à malária tem sido comum no exército desde a Segunda
Guerra Mundial, quando um efeito colateral do remédio Atabrine (quinacrina)
deixava a pele dos pacientes amarela.
"Naquele tempo, podíamos dizer,
'cale-se e tome o remédio, estamos lutando contra os japoneses,'"
disse Magill. "Os japoneses não tinham a droga e foram dizimados
pela malária. Poderíamos defender a idéia de que ganhamos a guerra
graças ao Atabrine".
O exército ainda está cheio de
rumores sobre essas drogas, disse. Em 2002, três soldados das forças
especiais que retornaram do Afeganistão a Fort Bragg mataram suas
esposas, e os boatos culparam a mefloquina, ou Lariam, uma poderosa
droga antimalárica que pode ser tomada uma vez por semana, mas que
em casos raros leva a psicose.
No ano seguinte, 43 soldados da
marinha que evacuaram americanos durante confrontos na Libéria
pegaram malária, e testes de sangue mostraram que ninguém em sua
unidade havia tomado mefloquina adequadamente.
Magill disse que o Coartem não
mudaria essa situação porque não é uma droga preventiva, mas daria
aos médicos militares mais flexibilidade. As forças especiais,
segundo ele, já se tratam com Coartem não oficialmente. "Eles
compram fora do mercado", Magill disse. "Eles são muito espertos, e
com eles é 'missão primeiro', toda a burocracia depois. Mas isso
nunca vai acontecer com o restante do exército".
A Novartis vai perder dinheiro com o
Coartem aqui nos EUA, Magill prevê, mas "foi pressionada pelo
governo".
Silvio Gabriel, gerente de
iniciativas contra malária da empresa, concordou. "Mas o Coartem nos
serve basicamente para relações públicas", ele disse.
No entanto, a empresa pode ganhar um
bônus inesperado. Sob uma lei que entrou em vigor há apenas dois
meses, a FDA poderá emitir "certificados de revisão prioritária"
para empresas que registrarem novas drogas contra algumas doenças
tropicais, incluindo a malária.
O certificado exige que a agência
acelere a revisão da próxima droga que a empresa registrar, fazendo
o trabalho em seis meses ao invés dos costumeiros 10 a 12 meses,
disse Sandy Walsh, porta-voz da FDA.
Isso significa pouco para uma droga
barata contra malária, mas para um sucesso como o Viagra, seis meses
a mais de vendas antes dos genéricos entrarem no mercado podem se
traduzir em centenas de milhões de dólares em lucros. E a Novartis
ainda pode vender seu certificado.
Quando questionado sobre isso,
Gabriel respondeu, "sim, bem, esse é um presente dos céus".
Mas ele observou que a empresa
concordou em iniciar o processo de registro em 2006, um ano antes da
lei sobre a criação dos certificados.