Cientistas criam
material que não molha nunca
Imagine uma roupa que se lava
sozinha. Ou a capa de chuva que não deixa entrar nem uma gotinha. Ou
a camisa branca imune a manchas de vinho tinto. Feitos com um
material que resiste não só à água, mas também não admite ser
manchado com óleo ou com gasolina. Pois os primeiros protótipos
deste tipo de material já foram produzidos nos EUA e na Europa.
Os pesquisadores conseguiram um feito
raro, melhorar o que existe na natureza. Há folhas de plantas com
superfícies hidrofóbicas, isto é, repelem a água, que em vez de
penetrá-las forma gotas na sua superfície. As penas das aves também
têm essa propriedade --mas podem ser maculadas por óleo, como os
derramamentos de petróleo demonstram tristemente.
A equipe de Robert Cohen, do
Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA, criou superfícies
igualmente hidrofóbicas e oleofóbicas. As propriedades
"anti-sociais" do material são tão fortes que os pesquisadores
criaram uma nova palavra para descrevê-lo: "omnifóbico", o que
repele tudo.
Uma das maneiras de obter a
propriedade envolveu produzir uma textura microscópica na superfície
capaz de repelir o líquido em contato graças a minúsculos bolsões de
ar. A textura tem estruturas que lembram a forma de um cogumelo.
O conceito essencial é o de "tensão
superficial", o efeito que faz a superfície de um líquido se
comportar como uma membrana elástica. Ela é causada pela atração
entre as moléculas no interior do líquido. Os líquidos procuram
adotar uma forma que minimize a superfície, o que explica por que as
gotas tendem a ser esferas (a forma com a menor relação entre
superfície e volume).
A água tem uma tensão superficial
alta, o que explica sua facilidade em formar gotas sobre uma
superfície hidrofóbica. Já os óleos têm tensão baixa, por isso
tendem a formar poças rasas e a penetrar tecidos.
Além da superfície com a forma
correta, Cohen e colegas também usaram uma camada de um composto
químico hidrofóbico, o fluorodecil-POSS, para criar um material
verdadeiramente omnifóbico, como descreveram em artigo publicado no
periódico "PNAS". O efeito pôde ser observado até em uma pena de
pato, que passou a repelir óleo depois de mergulhada no composto.
"Os efeitos sinergéticos da textura
reentrante da pena de pato e a pequena energia de superfície das
moléculas de fluorodecil-POSS permitem à pena repelir facilmente
diversos tipos de líquidos", diz Anish Tuteja, primeiro autor do
estudo.
Já a equipe de Stefan Seeger, da
Universidade de Zurique, Suíça, conseguiu um tecido com propriedades
super-hidrofóbicas ao revestir fibras de poliéster com microscópicos
filamentos de silicone.
O tecido impede a entrada de água,
que se mantém na forma de gotas esféricas, mantendo o mínimo contato
com a superfície. Segundo Seeger, é também a combinação da estrutura
microscópica com a camada química que produz o efeito.
Mesmo debaixo d'água o tecido mantém
a propriedade. Retirado em seguida, ele está seco. Seeger descreveu
o material na revista científica "Advanced Functional Materials".
As aplicações da tecnologia não se
limitam a tecidos. O estudo de Cohen e Tuteja teve financiamento da
Força Aérea dos EUA, interessada em obter membranas e vedações à
prova de óleo e combustível de avião. Mas a descoberta despertou
interesse até de fabricantes de aparelhos auditivos, que querem
evitar o acúmulo de cera do ouvido nos seus produtos.
Fonte:
folha.uol.com.br
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