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Governo corta 'bondades' à Argentina

 

Governo corta 'bondades' à Argentina

O governo está disposto a "tirar o pé" nas bondades para a Argentina, como concessão de crédito e financiamento, se não forem resolvidas questões comerciais, como o atraso na liberação de licenças de importação para as empresas brasileiras.

É cada vez mais forte na área econômica a percepção de que os temas não podem ser tratados em separado. "Precisamos de uma atualização da nossa diplomacia", disse uma fonte.

O Ministério da Fazenda, que está ganhando poder na relação com os países vizinhos, é contrário a uma abordagem "abrasiva" contra a Argentina, mas também não concorda com permanecer "inerte".

A estratégia é marcar uma reunião de alto nível entre funcionários dos dois países e dar a entender que o Brasil pretende ser menos simpático aos pedidos argentinos de financiamentos para infraestrutura ou concessão de crédito. Uma oportunidade poderia ocorrer na reunião dos presidentes do Mercosul, nos dias 23 e 24 de julho, ou na reunião bilateral, que estava marcada para a próxima semana, mas foi adiada para dia 28.

Mas antes é preciso encontrar consenso dentro do governo. No Ministério do Desenvolvimento, a opção é por uma ação enérgica, como aplicar licenças contra produtos argentinos ou levar o caso à OMC. O Itamaraty prega que é preciso ser paciente com a Argentina, que enfrenta problemas mais graves que o Brasil com a crise.

Na Fazenda, a percepção é de que adotar licenças de importação contra a Argentina é complicado e seria "amadorismo" bater de frente, já que muitas empresas brasileiras têm negócios na Argentina.

Segundo uma fonte, o Brasil estaria disposto a entender "medidas de exceção" para evitar uma "sangria" de dólares em um momento de crise, mas é preciso respeitar os acordos.

O governo brasileiro está particularmente incomodado com o fato de que a Argentina descumpriu as promessas ao Brasil e não liberou as licenças para calçados e móveis, mesmo depois de fechados acordos de restrição de vendas entre os empresários. Em outros setores, como têxtil e linha branca, ainda não foi possível chegar a um entendimento.

Outro assunto que preocupa a Fazenda e deve entrar nas conversas é uma disputa tributária que pode custar ao setor privado US$ 200 milhões. O governo argentino quer cobrar, retroativamente, uma taxa de 0,5% sobre os ativos das empresas brasileiras instaladas no país.

A postura na área econômica é de que é preciso fazer pressão. Na época em que a presidente Cristina Kirchner estatizou a Aerolineas Argentinas e precisou renovar a frota de aviões, a Fazenda defendeu barganhar o empréstimo de US$ 700 milhões, que foi concedido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por uma maior agilidade na entrada de produtos brasileiros no país. Mas prevaleceu a visão do Itamaraty de não misturar os assuntos.

Segundo uma fonte da área econômica, não vão faltar outras oportunidades, já que os dois países têm uma pauta ampla de cooperação. O Brasil acaba de conceder à Argentina, por exemplo, um swap cambial de R$ 3,5 bilhões. O acesso ao crédito é tema muito sensível para o vizinho, porque o mercado externo está fechado para o país desde o calote da dívida.

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