O iBird foi um dos três
aplicativos que estiveram na chamada e, embora aparecendo por
apenas cerca de sete segundos, foi tudo que precisava para se tornar
o aplicativo "referência" número 1 da App Store do iPhone, uma
estrela do software entre as mais de 35 mil aplicações que lotam a
prateleira da loja virtual. O iBird Explorer é oferecido em
diferentes versões, variando entre US$ 4,99 e US$ 29,99, ou cerca de
R$ 10 e R$ 60, respectivamente.
"A Apple me pagou US$ 10 milhões para
mostrar meu aplicativo nos maiores canais, nos maiores programas de
televisão - não, sequer consigo colocar um número nisso", disse
Waite. É uma história deliciosa, não apenas por não envolver um
processo, mas também por não envolver custos de propaganda. A Apple
não aceita dinheiro de companhias cujos produtos são apresentados em
seus comerciais ou no outro lugar de destaque, a seção 'Featured' da
App Store.
Isso gerou aplausos para a Apple por
parte de desenvolvedores de software e apoiadores. "A Apple não quer
o dinheiro. É um jogo equilibrado", disse Matt Murphy, investidor de
risco da Kleiner Perkins Caufield & Byers. Se a Apple gostar do
aplicativo, continuou, "não importa se ele veio de uma companhia
individual ou com 10 mil pessoas; eles vão colocar nos destaques 'New'
ou 'What's Hot'.
O acesso a esse jogo equilibrado
exige US$ 99 anuais, o custo para se integrar ao programa de
desenvolvedores do iPhone. Um aplicativo finalizado precisa obter a
aprovação da Apple antes de ser posto à venda na App Store. Isso
costuma ser um processo demorado e enfurece muitos desenvolvedores.
Mas a pior acusação contra a Apple tem sido sua opacidade
enlouquecedora, não discriminação.
A Apple fica com 30% nas vendas da
App Store, uma fatia pequena em comparação ao exigido por outras
lojas online no passado. As que distribuíam software para o Palm
Pilot, por exemplo, requisitavam uma parcela de 50% a 70% nas
vendas, de acordo com Jeff Scott, fundador do 148Apps.com,
website que oferece reviews completos de aplicativos do iPhone.
A Apple também dinamiza a compra e o
download. O aplicativo é transferido da loja para o aparelho iPhone
e está pronto para rodar em poucos segundos. O próprio apelo da App
Store, que atrai tantos desenvolvedores, vem intensificando um
problema perenemente complicado: como um novo título de software
pode chamar a atenção de prováveis consumidores? "Por 99 paus por
ano, a Apple lhe dá a habilidade de vender software para milhões",
disse Scott. "Eles solucionaram o problema de distribuição, mas não
o problema de marketing para os desenvolvedores."
O site de Scott, 148Apps.com,
oferece uma solução parcial, mas seus reviews cobrem apenas centenas
de programas, não dezenas de milhares. A Apple pode dar destaque a
apenas alguns aplicativos, afinal, destacar todos significaria não
dar destaque a nenhum. Os sem-destaque ficam encalhados na multidão,
colocados em uma das 20 categorias.
Apenas cinco aplicativos podem ser
mostrados ao mesmo tempo na tela pequena do telefone. A menos que um
programa coloque o aplicativo em um tipo de lista de mais vendidos,
organizando-o entre os cinco visíveis na primeira tela, o navegante
casual provavelmente não o verá. E com o crescimento do número de
aplicativos, torna-se difícil mesmo alcançar o top 100 de alguma
categoria.
Neil Young, CEO da Ngmoco, que faz
jogos para iPhone, disse que sua companhia acompanhou de perto o que
aconteceu com os cinco mil títulos adicionados após a App Store ter
ultrapassado a barreira dos 25 mil títulos. "Só 40 dos cinco mil
chegaram ao top 100", disse Young. "É muito difícil um aplicativo
ficar acima do ruído." Ele credita o sucesso dos títulos da
companhia às recomendações dos entusiastas de jogos, que os sugerem
aos amigos.
Em abril, a Apple comemorou um bilhão
de downloads na App Store em apenas nove meses. Apesar de todo o
sucesso da loja, a Apple ainda prefere usar softwares de terceiros
para vender seu hardware. Waite contou o que um contato na Apple
havia lhe dito: "Escolhemos aplicativos não por seu desempenho nas
vendas - selecionamos aqueles que vão vender mais iPhones e iPod
Touches por exibirem seus melhores recursos ou por serem algo que
não se pode conseguir em nenhum outro lugar".
O iBird de Waite se encaixa em tal
perfil, pois transforma o iPhone em um guia de campo portátil
repleto de cantos de ave, os quais um guia impresso não pode
fornecer. Dezenas de milhares de desenvolvedores para iPhone jamais
vão receber a chamada transformadora de vidas da Apple e nunca
estarão à vista na lista dos top 5.
"De diversas maneiras, desenvolver um
programa é como escrever um livro", disse Jeffrey Tarter, editor e
fundador do Softletter, um informativo para desenvolvedores. "Você
primeiro se preocupa em fazer algo de que todos gostem. Só depois se
preocupa em como ganhar dinheiro."