Uma das coisas mais
interessantes da minha profissão é que, com o passar do tempo, a
gente acaba tendo uma incontrolável necessidade de abandonar a visão
restrita de um determinado assunto e passar a enxergar as coisas de
uma maneira mais ampla, profunda e racional, principalmente em um
mundo cuja velocidade na troca de informações anda beirando o
supersônico.
Fico pasmo em ver que, a cada dia que passa, mais e mais pessoas
se entregam ao nefasto e persuasivo ato de esquecer de si mesmas,
como se a alienação fosse uma virtude - para não dizer uma
necessidade social. Para muitos, é mais fácil e seguro ser uma besta
alegre e babar perante qualquer "novidade".
Antes que você pense que andei tomando uma sopa de cabeça de bode
no café da manhã, saiba que o que acabei de escrever tem a ver com a
sensação de que algo está sendo empurrado goela abaixo da molecada -
mais uma vez! -, justamente aquela fatia de público que vai herdar o
show business das próximas décadas e consumir a música
vigente na ocasião, seja de que formato for. Trata-se de uma tal de
Lady Gaga, uma garota que mais parece uma boneca de pano de qualquer
integrante do pavoroso Pussycat Dolls que criou vida e foi
imediatamente contratada por uma gravadora "iisssshhhhhhppéeerrrrttttta".
Ouvir o que ela faz em termos musicais é apavorante, justamente
porque sugere que vamos ter que aguentar novamente um dos piores
pesadelos sonoros de todos os tempos: a tal dance music. Já
vi gente dizendo que ela é a nova Madonna! Pior: tem paspalho na
imprensa internacional escrevendo que ela é o "perfeito cruzamento
entre a Britney Spears e o Marilyn Manson"!!! Ou o cara é
mal-intencionado ou anda tomando café coado em "meião" de futebol
usado.
Veja abaixo um vídeo da moça:
O mais incrível é que tem gente que
ainda acredita que aquilo que é bom para os Estados Unidos e para a
Europa é legal para o Brasil também. E tome pataquadas como Usher,
Kate Perry, 50 Cent, Lilly Allen, Lil Wayne e outros artistas
medíocres, que são constantemente listados como "exemplos de
sucesso". E isso não é um fenômeno recente, claro. Tentaram fazer o
mesmo com a péssima Miss Kittin - alguém aí ainda lembra dessa
porcaria de eletro? Ainda tem gente refém do lance "está
tocando direto nas rádios" ou "é capa das maiores revistas
internacionais"! É o fim da picada...
Vivemos uma época de idolatria
instantânea, que nasce, vive e morre em questão de meses ou até
mesmo de dias. Infelizmente, o Brasil é uma nação formada em sua
maioria por pessoas que não gostam de ler e que têm uma capacidade
de compreensão de textos semelhante à de um gambá. A cretinice faz
com que o Brasil pareça uma máquina impossível de se consertar. Há
uma geração de "pessoas românticas" que não sabem sequer como dar um
abraço sem produzir uma baba retardada, manifestada em frases
prontas extraídas de livros de autoajuda - tenho vontade de esganar
quando alguém diz "um beijo no seu coração". Milhões de pessoas se
parecem com lagartixas felizes toda vez que surge um reality show
idiotizante - o que é essa tal de A Fazenda, meu Deus? Todo
mundo acha que fazer qualquer besteira na frente de uma câmera é o
caminho certo para o estrelato.
Ao lado de outras monumentais
porcarias como o tal "sertanejo universitário", Lady Gaga é só mais
um exemplo de como o show business ainda trata seus
consumidores como meros idiotas.
Só vamos conseguir exterminar a nuvem
negra da ignorância que cobre este planeta no momento em que
começarmos a recusar tudo aquilo que nos é oferecido, quando
deixarmos de ter a boca molhada pela saliva da gratidão, quando
deixarmos de ser dromedários fatalistas e transformarmos a nossa
indignação em atitudes. Enquanto houver gente que prefere colocar
uma venda nos olhos, lacrar o coração e cultivar a estupidez,
seremos apenas um monte de babacas...