A situação era para lá de boa, na
comparação com o momento atual, a ponto de alguns economistas
avaliarem que não existiam motivos para tal. A Bolsa bateu os 70 mil
em maio de 2008, o que deu vazão aos questionamentos sobre se as
empresas valiam tanto. O fato é que, aconselhados por conhecidos,
que estavam ganhando bastante dinheiro, muitos passaram a investir
em ações justamente nessa época.
"No ano passado, o pequeno
investidor, que contava com até R$ 100 mil para aplicar e,
historicamente, sempre preferiu aplicações menos arriscadas, como os
fundos de renda fixa, migrou para o mercado acionário em busca de
lucros e resultados rápidos", lembra a economista e professora de
Finanças da Fundação Vanzolini, Sandra Biagioli.
Foi quando, no segundo semestre do
ano passado, a crise mundial atingiu com força a Bolsa brasileira,
que chegou a 29.435 pontos, em 27 de outubro de 2008. Não é preciso
dizer que essas pessoas viram seus ganhos naufragarem. Porém, só
perderam dinheiro mesmo aquelas que se desesperaram e realizaram
prejuízo. Quem teve mais paciência está observando, neste momento,
uma lenta e inconstante recuperação.
Dá para recuperar?
Na opinião do professor de Finanças
da FIA-USP, Ricardo Almeida, se o investidor se desesperou e
realizou prejuízo, infelizmente, não há o que fazer. "Ele precisa
esquecer e se reerguer. Não adianta buscar recuperar o montante
perdido, porque, ao se desesperar, pode acabar perdendo ainda mais,
expondo-se a riscos altos", afirma.
A boa notícia para quem não entrou em
pânico e permaneceu na Bolsa é que dá para recuperar o dinheiro,
embora não haja consenso, entre economistas, de quando. Pode ser
daqui a um ano, dois ou três.
As variáveis são inúmeras: dependerá
do comportamento das economias americana, chinesa e, é claro, da
brasileira, dos preços das commodities, da demanda por exportações,
da recuperação do crédito, do nível de emprego, entre tantas outras.
Recuperação, antes tarde do que
nunca!
Os investidores que fizeram a lição
de casa, e não aplicaram montantes dos quais iriam precisar no curto
prazo, devem esperar, porque a recuperação virá, cedo ou tarde, diz
Almeida.
O professor da pós-graduação em
Ciências Contábeis e em Administração do Mackenzie, Wilson Nakamura,
compartilha dessa mesma opinião. "Quem ficou na Bolsa não tem outra
alternativa senão esperar, porque realizar outros investimentos não
iria adiantar", explica.
Alguns dos especialistas que todos os
dias se debruçam sobre o mercado financeiro são até bastante
otimistas. Nakamura acredita que, até o final do ano, a Bolsa pode
se recuperar. "O Ibovespa tem se recuperado e deve continuar
subindo, embora com oscilações, em função de más notícias veiculadas
na mídia e de movimentos de realização de lucros", afirma ele.
Segundo o professor do Mackenzie, até
mesmo a queda da taxa básica de juros pode repercutir na Bolsa, com
um movimento de saída da renda fixa e migração para o mercado de
ações. "Mas isso não se dá abruptamente", garante.
Retomada sustentável
Outro otimista com relação ao mercado
de ações brasileiro é o economista e presidente da Ricam
Consultoria, Ricardo Amorim, que, em entrevista ao portal InfoMoney,
publicada na semana passada, afirmou que, em cinco anos, a Bolsa
poderá atingir os 200 mil pontos . Segundo ele, a retomada da
economia no Brasil se dará de forma sustentável, embora o mesmo não
deva acontecer em países como EUA e Japão.
"A alta da Bolsa brasileira ao longo
dos próximos anos será muito significativa. A gente vai viver um
ciclo parecido com o que foi vivido entre outubro de 2002 e setembro
de 2008, quando a Bolsa subiu 800%", disse Amorim.
E quem precisa do dinheiro?
Por outro lado, é possível que
investidores com menos experiência tenham apostado fichas altas na
Bolsa, quando esta se encontrava no pico da alta, em 2008, de
maneira que investiram mais do que poderiam e deveriam. O que fazer?
Na opinião de Nakamura, se for possível, esperar pelo menos até o
final do ano, porque, ao que tudo indica, os países emergentes estão
conseguindo se recuperar mais rapidamente, o que deve alavancar os
resultados da Bolsa.
"Quem quiser pode promover uma
realocação em sua carteira de investimentos, migrando para ações que
pagam melhores dividendos", opina.
Segundo ele, a recuperação recente da
Bolsa está calcada em bons motivos: o varejo não parece ter sido
muito atingido pela crise e o nível de crédito está sendo
rapidamente restabelecido. "Medidas pontuais do governo, como a
isenção do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para o
setor automotivo, têm surtido efeito", acrescenta.
Hora de buscar segurança
Sandra Biagioli, da Fundação
Vanzolini, explica que, de fato, quem se desesperou com o movimento
de queda da Bolsa e vendeu suas ações, deve se conformar. "O que
perdeu está perdido", admite, ao lembrar que o investidor deve,
neste momento, procurar aplicações mais seguras, para fugir da
instabilidade atual do mercado financeiro. Ela também recomenda
paciência àqueles que não saíram da Bolsa, porque a retomada aos
níveis anteriores à crise deve acontecer dentro de um ano, em sua
opinião.
Nakamura lembra que outro motivo para
não arriscar nos investimentos no momento atual é o fato de muitos
brasileiros, de todos os níveis hierárquicos, estarem perdendo o
emprego. Nunca se sabe o que pode acontecer futuramente e é preciso
estar preparado.
Lição valiosa
Os investidores que amargaram perdas
precisam se levantar do tombo e recomeçar. Mas esta crise pode não
ter sido de todo ruim. Ela deixou lições valiosas aos inexperientes.
"Esta crise deixou marcas e algumas pessoas terão mais resistência
ao mercado de ações daqui para frente, por conta do prejuízo. Mas
elas aprenderam que é preciso tomar cuidado com o sonho de obter
lucros muito altos em pouco tempo", afirma Sandra.
Ela alerta para o componente
emocional que existe quando o assunto é investimento. "O problema é
saber o tempo de cada um. Quando as pessoas acham que o momento é
muito bom, rapidamente concluem que nunca ficará ruim. E quando está
ruim, acreditam que irá melhorar agora. No entanto, oscilações e
quedas bruscas acontecem sempre. Esta crise, muitos grandes
economistas não previram. Porém, a verdade é que investir em ações
sempre foi arriscado, com ou sem crise", afirma.
Em última análise, nada mudou de
fato, já que a Bolsa sempre se caracterizou por picos de alta e de
baixa, que acontecem de anos em anos. Para Nakamura, com ou sem
crise, o pequeno investidor não deve aplicar mais de 50% em ações ,
por melhor que sejam as perspectivas. Ele deve procurar sempre
aplicações com maior liquidez, caso precise do dinheiro de imediato.
Essa é uma das lições mais importantes que a crise deixou.
A regra do colchão de liquidez é
importante principalmente para os pequenos investidores que têm
filhos ou que investem com o objetivo de se aposentar e estão
prestes a parar de trabalhar. Não dá para arriscar em situações como
essas.
A última lição que foi fatalmente
aprendida pelo pequeno investidor é a da necessidade de saber
analisar as empresas. "No Brasil, os juros baixos e o programa Minha
casa, minha vida devem alavancar empresas do setor da construção
civil. Já as empresas do varejo continuam firmes, porque a demanda
interna se manteve, mesmo com a crise", exemplifica o professor do
Mackenzie.