Senado usa atos
secretos para proteger presos pela PF
Os atos secretos do Senado
foram usados para blindar e esconder movimentações de assessores
parlamentares presos pela Polícia Federal nos últimos anos. É o
caso, por exemplo, de José Roberto Parquier, preso pela PF em maio
de 2006 na Operação Castores, que desmontou uma quadrilha acusada de
corrupção em estatais do setor elétrico.
Na época, Parquier era assessor do
senador Valdir Raupp (PMDB-RO). Mesmo depois da operação, ele
permaneceu por mais dois anos no Senado, recebendo R$ 7,6 mil de
salário. Sua demissão, quando trabalhava com Raupp na liderança do
PMDB, se deu em 15 de maio de 2008, por meio de ato secreto -
somente agora revelado. O documento foi assinado pelo hoje
diretor-geral, na época diretor adjunto, José Alexandre Gazineo.
Em outro caso, de 2 de dezembro
passado, o Senado publicou a exoneração de Antônio José Costa
Guimarães, acusado pelo Ministério Público Federal no escândalo da
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), que
envolveu também o hoje deputado Jader Barbalho (PMDB-PA). Guimarães
estava lotado na liderança do PMDB como secretário parlamentar, com
um salário de R$ 7,6 mil. Mas um ato secreto, de 15 de janeiro
passado, anulou a demissão. Até hoje uma nova exoneração não
apareceu no levantamento dos atos secretos feito pela comissão de
sindicância do Senado. Na verdade, Guimarães trabalha na Câmara. É
uma espécie de secretário particular de Jader, ex-presidente do
Senado.
Outro caso envolve Enéas Alencastro
Neto, preso pela Operação Navalha em 17 de maio de 2007, quando
trabalhava como representante do governo de Alagoas em Brasília. Ele
passou uma semana detido sob a acusação de receber propina da
construtora Gautama, suspeita de desvio de recursos públicos e alvo
principal da ação da PF. Era o homem de confiança do ex-senador e
governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) na capital federal. Recebia
salário de R$ 9,9 mil desde 2003 do gabinete de Teotonio no Senado.
Em 2007, com a posse do tucano como governador, o suplente João
Tenório (PSDB) assumiu a vaga. E Alencastro continuou lotado na
Casa. A assessoria de imprensa de Tenório diz que, no mês da ação da
PF, encaminhou à Diretoria-Geral o pedido de exoneração de
Alencastro. A demissão, porém, nunca foi publicada. Nem aparece na
lista de atos secretos que vem sendo republicada no sistema interno
da Casa.
Inversão
Algumas decisões eram anuladas antes
de serem editadas. Carlos Rudinei Mattoso foi preso pela Polícia
Federal em novembro de 2007, em uma operação para combater o
contrabando de computadores em Brasília. Informalmente, era
fotógrafo de Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado.
Oficialmente, porém, era lotado na Diretoria-Geral da Casa. Mattoso
chegou ao posto em fevereiro de 2007 com a seguinte movimentação: o
ato 1.667 o exonerou da Segunda Vice-Presidência. Mas um ato, em
tese anterior, com o número 1.099, cancelou essa demissão e o
transferiu para a Diretoria-Geral do Senado.
A reportagem de procurou a Secretaria
de Comunicação do Senado para saber dos atos referentes às pessoas
citadas. Até o fechamento da edição desta terça-feira, porém, não
obteve resposta. Raupp disse desconhecer a demissão do ex-assessor
por ato secreto: "Não me recordo."
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Fonte:
folha.uol.com.br
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