Por exemplo, tomilho e sálvia
costumam registrar picos durante o Dia de Ação de Graças, a canela
durante o inverno, chocolate e baunilha nos finais de semana
(provavelmente traços de alimentos consumidos em festas), e
ingredientes usados para waffles disparam no feriado de 4 de julho.
O estudo do estreito de Puget é um
dos diversos esforços em curso para investigar os ingredientes
inesperados que encontram lugar no suprimento mundial de água.
Em todo o mundo, os cientistas vêm
encontrando traços de substâncias - de açúcar e especiarias a
heroína, passando por combustível para foguetes e anticoncepcionais
- que podem ter consequências imprevistas para a vida humana e a
fauna.
Mares de baunilha?
Quando as especiarias e condimentos são levados de um lar
norte-americano pelo esgoto, vão para um centro de tratamento, e a
maior parte de seu volume é removido lá. Na área em torno do
estreito de Puget, os pesquisadores da Universidade de Washington
descobriram que os resíduos de especiais que não são removidos
terminam por se despejar nas vias aquáticas que emanam do estreito e
penetram a terra.
De todos os sabores identificados
nessas vias, a baunilha artificial predomina, diz Keil. Por exemplo,
a equipe encontrou em média seis miligramas de baunilha artificial
por litro de água analisado. Os esgotos da região contêm mais de 14
miligramas de baunilha por litro. Isso equivaleria a despejar em uma
piscina olímpica cerca de 10 vidrinhos de 120 ml de baunilha
artificial.
Por enquanto, não existem indícios de
que um estreito mais doce e mais temperado seja um problema. "Os
salmões, que são capazes de farejar o aroma desses produtos, talvez
estejam aproveitando seu ambiente temperado com baunilha", disse
Keil.
No geral, disse ele, o projeto de
identificação de especiarias se provou uma boa maneira de educar as
pessoas, especialmente as crianças, quanto ao fato de que "tudo que
fazem se conectar às águas da região".
Drogas ilegais
A conexão entre banheiro e cozinha e a costa também pode abrir
caminho a algumas substâncias menos agradáveis, tais como drogas
ilícitas, descobriram os especialistas. Depois que uma pessoa usa
drogas como cocaína, heroína, maconha e ecstasy, os subprodutos
ativos das substâncias são liberados nas águas do esgoto por meio da
urina e fezes dos usuários.
Esses subprodutos, ou metabolitos,
muitas vezes não são removidos completamente durante o tratamento de
esgoto, ao menos na Europa, diz Sara Castiglioni, do Instituto Mario
Negri de Pesquisa Farmacológica, em Milão, Itália.
Isso significa que as águas
contaminadas por drogas podem penetrar o lençol freático e as águas
de superfície, que servem coletivamente como importantes fontes de
água potável para a maioria das pessoas.
Em um novo estudo sobre pesquisas
anteriores, Castiglioni e seu colega Ettore Zuccato constataram que
as drogas ilícitas têm presença "generalizada" nas águas de
superfície de algumas das áreas povoadas europeias.
Por exemplo, em um estudo de 2008,
cientistas descobriram um subproduto de cocaína em 22 das 24
amostras de água potável testadas em uma usina espanhola de
tratamento, a despeito do rigoroso processo de filtragem. Embora
ínfimos, esses resíduos podem ser tóxicos para os animais de água
fresca, de acordo com o estudo, que será publicado pela revista
Philosophical Transactions of the Royal Society A.
Por isso, "não pode ser excluída a
possibilidade de risco para a saúde humana e ambiental", alerta o
estudo.
Produtos farmacêuticos
Os cientistas também estão descobrindo mais sobre a presença de
produtos como compostos farmacêuticos legais e itens de tratamento
pessoal, de antibióticos e morfina a filtro solar, em volume cada
vez maior nas nossas águas.
Pesquisas anteriores revelaram, por
exemplo, que até 20 quilos de produtos farmacêuticos fluem pelas
águas do rio Po, na Itália, a cada dia.
Como no caso das drogas ilícitas,
traços desses produtos muitas vezes escapam à filtragem nas usinas
de tratamento de esgotos. Os produtos também são encontrados em
muitas vias aquáticas dos Estados Unidos, e estudos indicam que
certas drogas podem prejudicar o meio ambiente -embora não haja
indícios até o momento de que prejudiquem pessoas, de acordo com a
Agência de Proteção Ambiental (EPA) norte-americana.
Contaminantes
As atuais normas da EPA dispõem que mais de 90 contaminantes sejam
filtrados e eliminados dos sistemas de água potável, diz Cynthia
Dougherty, diretora do serviço de água da agência.
Vírus e outros microrganismos são
filtrados, e o mesmo se aplica a substâncias inorgânicas como
chumbo, cianeto, cobre e mercúrio. Os poluentes gerados pelo uso de
fertilizantes, como nitrato e nitrito, são removidos, igualmente.
Além disso, a agência estuda
regularmente os novos produtos químicos que podem requerer
regulamentação. No momento, há interesse quanto ao perclorato, um
produto químico tanto natural quanto artificial usado em fogos de
artifício e combustível de foguetes, disse Dougherty.