Lizárraga, nascido na Argentina em
1924, pertence à categoria dos artistas indispensáveis quando se
trata de pensar a arte de seu tempo. Acompanhar sua trajetória e
analisar os vários elementos presentes em sua carreira nos leva, de
certa forma, a compreender melhor os rumos da arte brasileira do
século passado. É verdade que Lizárraga só era brasileiro por
adoção, mas participou intensamente do cenário artístico local em um
período de grande experimentação formal e social. Conheceu São Paulo
e sua cena artística em 1956. Animado com o que viu, mudou-se
definitivamente para o País em 1959. Nesse mesmo ano começou a fazer
ilustrações para o Suplemento Literário de O Estado de S. Paulo,
dando início a uma longa colaboração que se estenderia até 1967.
Foi com colegas do jornal que
aprendeu tipografia, linotipia e primeiras noções de diagramação -
lições que se tornariam úteis para os trabalhos em programação
gráfica e desenho industrial que desenvolveu posteriormente. Se nos
anos 60 esses trabalhos de caráter aplicado parecem dar a tônica de
sua produção, a década seguinte aparece profundamente marcada pela
experimentação, pela busca de uma arte de caráter coletivo e urbano.
Ações como o projeto de transformação da Rua Gaspar Lourenço, a
criação da Cooperativa de Artistas e uma série de experiências no
campo da criação gráfica marcaram fortemente sua ação nesse período,
até o corte radical ocorrido em 1983, quando um acidente vascular
cerebral o deixou tetraplégico. Foram necessários dois anos para que
Lizárraga redescobrisse, por sugestão da parceira Gerty Saruê, as
possibilidades de continuar explorando as artes visuais não mais por
meio da execução direta do trabalho e de seu virtuosismo técnico,
mas por meio de sua construção mental. Foi no projeto, executado por
seus assistentes, que ele passou, desde então, a explorar as
múltiplas possibilidades da composição da forma e da cor no espaço.
Após uma análise minuciosa dos
caminhos e diálogos trilhados por Lizárraga, tanto nas primeiras
décadas de sua carreira como no período posterior ao acidente, ela
conclui apontando uma interessante relação entre expressão artística
e busca existencial, vinculando a criação a um processo de
conhecimento e autoconhecimento.