O julgamento começou por volta 9
horas e deve durar pelo menos até o final da tarde. Segundo o juiz
Geraldo Amorim, que preside o julgamento, como Everaldo e Cição
respondem por duplo homicídio qualificado, podem pegar de 24 a 60
anos de cadeia em regime fechado, cada um. O promotor de Justiça,
José Antônio Malta, no começo do julgamento, pediu ao corpo de
jurados a pena máxima para os dois réus. Apesar do crime ter
ocorrido há 18 anos, o promotor disse que vai convencer o júri
quanto à participação dos acusados no duplo homicídio.
"Os anos passaram, mas a sociedade
alagoana lembra muito bem quem matava e aterrorizava as pessoas,
naquela época", afirmou o promotor. Segundo ele, dos nove acusados
pela morte de Ricardo Lessa e Antenor Carlota, apenas Everaldo e
Cição ainda não pagaram pelo crime. "Os demais acusados ou morreram,
executados como queima de arquivo, ou foram condenados, como
aconteceu com o ex-tenente-coronel Manoel Francisco Cavalcante, o
chefe da famigerada gangue-fardada", afirmou o promotor.
Segundo José Antônio Malta, o
delegado Ricardo Lessa morreu porque estava investigando outro
crime, também atribuído à gangue-fardada, o assassinato de um
paciente, que escapara de um atentado à bala, dentro da Unidade de
Emergência, o principal pronto-socorro de Maceió. Consta nos autos,
que o delegado Lessa teria mandado um recado ao ex-coronel
Cavalcante por Everaldo: "Diga a seu chefe que assuma o crime do
pronto-socorro, porque se ele sabe matar eu também sei". Dias
depois, o delegado e seu motorista foram metralhados.
O advogado de defesa Givan Lisboa
apresentou a tese da falta de provas nos autos, para tentar a
absolvição de seus clientes. Segundo ele, Everaldo e Cição "são
inocentes e estão sendo vítimas de uma grande perseguição". Lisboa
destaca que há um laudo de DNA dos fios de cabelo encontrados no
chapéu de um dos criminosos esquecido no local do crime. Segundo o
advogado, o laudo aponta que não há como concluir que o fio de
cabelo seja do ex-cabo Everaldo ou de Cição. "Por isso, não tenho
dúvida de que meus clientes serão inocentados", disse o advogado.
O laudo da defesa foi feito em São
Paulo, em um laboratório da Universidade de Campinas (Unicamp).
Porém, o resultado diverge daquele que é apresentado pela promotoria
e feito em Alagoas. O advogado de defesa negou ainda que o pai da
Eloá e o cabo Cição estejam foragidos. "Eles estão ausentes, mas não
foragidos. Eu estou aqui representando eles. Logo, eles se encontram
neste julgamento", afirmou Lisboa. As duas cadeiras reservadas para
os réus estavam vazias, durante o julgamento.