Numa decisão política surpreendente, os
suíços votaram – em um plebiscito realizado neste domingo (29/11) –
pela proibição da construção de minaretes no país. A iniciativa de
políticos populistas de direita conquistou o apoio de 57,5% dos
eleitores. Além de ter obtido 5 milhões de votos, a proposta de
proibição foi aprovada pela maioria necessária de 22 dos 26 cantões
da Suíça.
A iniciativa popular "Contra a
construção de minaretes", lançada pelos conservadores de direita do
Partido Popular Suíço (SVP), parece ter encontrado respaldo da
população apesar dos debates inflamados que precederam a votação.
A outra questão a ser decidida no
plebiscito deste domingo, a proibição da exportação de armas
requerida por um grupo de esquerda, foi rejeitada pelos eleitores
suíços, segundo indicam as primeiras projeções.
Comprometida a imagem de tolerância da
Suíça
Os defensores da proibição da construção
de novos minaretes consideram as torres das mesquitas um sinal
político do risco de hegemonia por parte do islamismo. Os
opositores, por outro lado, temem grandes prejuízos para o país,
pois a proibição não apenas compromete a liberdade de religião, mas
também pode gerar um conflito com o mundo árabe e prejudicar a
economia do país.
O governo suíço se opõe energicamente à
proibição. O presidente Hans-Rudolf Merz argumentou que a tolerância
religiosa tem tradição na Suíça e que a maioria dos muçulmanos é bem
integrada e respeita a ordem social.
A ministra da Justiça, Eveline
Widmer-Schlumpf, teme que isso prejudique a imagem da Suíça no
exterior. Ela se remeteu ao exemplo da Dinamarca e às ameaças de
morte motivadas pela publicação das caricaturas de Maomé. Além
disso, a ministra conta com represálias por parte dos parceiros
econômicos árabes.
"Uma cruzada contra o islamismo"
O sociólogo suíço Jean Ziegler advertiu
do surgimento de uma "atmosfera de pogrom" no país. Para ele, o
plebiscito sobre a proibição de minaretes é, na verdade, um
referendo sobre o islamismo.
"Muitos muçulmanos temem atentados,
violência e estigmatização", explica o ex-deputado social-democrata.
"Inicialmente só havia um pequeno grupo dentro do Partido Popular
Suíço, beirando ao fascismo, que exigia que se proibisse a
construção de minaretes." E esse grupo acabou iniciando uma campanha
gigantesca.
Para Ziegler, o SVP vive do medo das
pessoas. Eles sempre precisam da imagem de novos inimigos. "Agora o
partido iniciou uma cruzada contra o islamismo; e os muçulmanos são
os novos bodes expiatórios."
O sociólogo prevê que o plebiscito seja
só o começo dessa "cruzada" contra o islã e teme que ela ainda possa
se acirrar. Além disso, Ziegler adverte que isso poderá transformar
os suíços nos "novos inimigos" no mundo islâmico.
Quatro minaretes para 340 mil muçulmanos
Na Suíça vivem hoje 340 mil muçulmanos,
em grande maioria provindos da antiga Iugoslávia e da Turquia. De
aproximadamente 130 mesquitas e centros religiosos e culturais
islâmicos, apenas quatro têm minarete. Estes se situam em Genebra,
Zurique, Winterthur e nas proximidades de Olten.
O que impulsionou a iniciativa de um
plebiscito foram novos requerimentos para construção de minaretes em
mesquitas até então pouco aparentes. O minarete é a torre ou
plataforma elevada de onde os muezins chamam os fieis para a oração.
Etimologicamente, a palavra provém do termo árabe "manara" (farol).