O livro, que narra em tom irônico a
história bíblica de Caim, filho de Adão e Eva que matou o irmão
Abel, foi apresentado no domingo em Penafiel pelo autor.
"A Bíblia é um manual de maus
costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana",
declarou Saramago.
"Sem a Bíblia, um livro que teve
muita influência em nossa cultura e até em nossa maneira de ser, os
seres humanos seriam provavelmente melhores", completou.
O romancista denunciou "um Deus
cruel, invejoso e insuportável, que existe apenas em nossas mentes",
e afirmou que sua obra não causará problemas com a Igreja Católica
"porque os católicos não lêem a Bíblia".
"Admito que o livro pode irritar os
judeus, mas pouco me importa".
O porta-voz da Conferência Episcopal
Portuguesa, Manuel Marujão, chamou o livro de "operação
publicitária".
"Um escritor da dimensão de José
Saramago deveria tomar um caminho mais sério. Pode fazer críticas,
mas entrar em um gênero de ofensas não fica bem a ninguém, e muito
menos a um Prêmio Nobel", afirmou.
O rabino Elieze du Martino,
representante da comunidade judaica de Lisboa, afirmou que "o mundou
judeu não vai se escandalizar com os escritos de Saramago nem de
ninguém".
"Saramago desconhece a Bíblia e sua
exegese. Faz leituras superficiais da Bíblia", disse.
Saramago provocou revolta em 1992 com
"Evangelho segundo Jesus Cristo", no qual mostra um Jesus que perdeu
sua virgindade com Maria Madalena e que era utilizado por Deus para
ampliar seu poder no mundo. O escritor se mudou pouco depois de
Portugal e foi morar em Lanzarote, no arquipélago espanhol das
Canárias.