A economia brasileira cresceu 1,9 por
cento frente ao início deste ano e recuou 1,2 por cento na
comparação com 2008, segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta sexta-feira.
Economistas consultados pela Reuters
previam expansão de 1,6 por cento na comparação trimestral, segundo
a mediana de 20 estimativas que variaram de 0,7 a 2,2 por cento. Na
comparação com 2008, a mediana das projeções apontava queda de 1,5
por cento.
"O Brasil é o país com uma das
recuperações mais rápidas do mundo", comemorou o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, prevendo que no terceiro trimestre o país
pode crescer entre 2 e 3 por cento frente aos três meses anteriores.
No ano, a previsão é de 1 por cento de expansão.
"Em incentivos do governo, em
desonerações, estamos gastando entre 1 e 1,5 por cento do PIB em
2009, enquanto a China pretende gastar 13 por cento do PIB... e nos
Estados Unidos os gastos do governo com incentivos têm ficado em
torno de 6 e 7 por cento do PIB, mas sem apresentar os resultados
positivos como no Brasil."
Segundo o IBGE, para que a economia
encerre 2009 nas projeções da Fazenda, o avanço necessário na
segunda metade do ano é de 3,4 por cento.
Para o presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, o Brasil já está numa trajetória de crescimento
sustentável, mas "não é hora de baixar a guarda". "Precisamos, em
primeiro lugar, manter o equilíbrio macroeconômico no Brasil",
disse.
A desoneração tributária adotada pelo
governo para enfrentar a crise impulsionou o consumo das famílias e
contribuiu para que a economia deixasse a recessão, afirmou o
IBGE
"É claro que a redução de IPI ajudou
na retomada do crescimento do PIB", avaliou a gerente de contas
trimestrais do IBGE, Rebeca Palis.
MELHORA DAS PREVISÕES
A partir dos dados, alguns analistas
começam a considerar um desempenho melhor da economia brasileira no
ano do que o previsto até então.
"A economia já vinha surpreendendo, e
o dado do segundo trimestre é a cereja do bolo, para tirar qualquer
dúvida em relação à recuperação", disse o economista sênior da
Santander Asset Management, Ricardo Denadai. Ele melhorou a previsão
para o ano de contração de 0,5 por cento para estabilidade, após a
divulgação do IBGE.
"Durante a crise, o mais
impressionante é o comportamento do consumo interno... O que houve é
que a crise atingiu o país quando o mercado de trabalho estava na
melhor fase e, mesmo no pior momento das demissões, a renda real (se
manteve bem) e contrabalançou."
Levando em conta os dados do segundo
trimestre deste ano frente ao primeiro, o consumo das famílias
aumentou 2,1 por cento e o do governo teve variação negativa de 0,1
por cento. Já a formação bruta de capital fixo, uma medida dos
investimentos, permaneceu estável.
Mantega avaliou que os investimentos
só devem dar sinais firmes de recuperação a partir do quarto
trimestre.
Pela ótica da oferta, o maior
destaque foi a indústria --com crescimento de 2,1 por cento, depois
de dois trimestres em queda. Serviços avançaram 1,2 por cento,
enquanto a agropecuária recuou 0,1 por cento.
HERANÇAS
Frente ao mesmo trimestre do ano
passado, a indústria despencou 7,9 por cento e a agropecuária caiu
4,2 por cento, enquanto serviços avançaram 2,4 por cento. A formação
bruta de capital fixo desabou 17,0 por cento --pior desempenho da
série histórica do IBGE, com início em 1996.
"A volta dos investimentos é
essencial para dar robustez ao crescimento. O que a gente tem visto,
essa resiliência do consumo, naturalmente traz investimentos
adiante, mas a confirmação disso é o que vai dar robustez ao
crescimento", comentou Zeina Latif, economista-chefe do ING no
Brasil.
Denadai, da Santander Asset, lembrou
que a confiança do empresário teve "melhora expressiva" nos últimos
meses, o que tende a incentivar os investimentos.
"Acho que a recuperação não vai
acontecer no terceiro trimestre em razão da ociosidade ainda elevada
da economia... A recuperação mais forte do investimento vai ser
mesmo em 2010", ponderou.
Ele também citou que, embora esteja
se recuperando, o Brasil não avançou com reformas estruturais
importantes, e o quadro fiscal levanta preocupações. "Os indicadores
fiscais não pioraram tanto tanto quando lá fora, mas pioraram."