"A FAB, ela tem o conhecimento
tecnológico para fazer a avaliação, ela vai fazer e eu preciso que
ela faça. Agora, a decisão é política e estratégica e essa é do
presidente da República e de ninguém mais", disse Lula a
jornalistas, em Pernambuco.
"Temos muito tempo para discutir
porque eu não tenho obrigação de decidir amanhã, depois de amanhã, o
ano que vem. Eu decido quando eu quiser", concluiu.
A polêmica sobre o assunto ganhou
corpo na segunda-feira depois que Lula anunciou junto com o
presidente da França, Nicolas Sarkozy, que o Brasil estava entrando
em uma fase final de negociações para a compra dos caças franceses
Rafale.
Naquele dia, entretanto, o governo
não explicitou se a concorrência para a compra das aeronaves estava
encerrada. Isso só ocorreu no dia seguinte, quando o Ministério da
Defesa divulgou comunicado informando que o processo de escolha do
novo caça da Força Aérea ainda não está concluído.
O Rafale, fabricado pela Dassault
Aviation, está concorrendo com o F/A-18E/F Super Hornet da Boeing e
com o Gripen da sueca Saab.
O Ministério da Defesa informou
também nesta sexta-feira que as três empresas tem até 21 de setembro
para apresentarem novas propostas melhoradas. No caso da Dassault, a
companhia terá de formalizar junto à FAB as promessas feitas pelo
presidente Sarkozy, segundo comunicado do ministério.
"Os compromissos que o presidente
Sarkozy fez terão que se transformar em ofertas da própria Dassault",
disse o ministro da Defesa, Nelson Jobim, acrescentando que "há uma
decisão política do presidente da República de ampliar a sua aliança
estratégica com a França".
Entre as melhorias prometidas pelo
governo francês está a redução do preço pelos caças a valores
comparáveis aos pagos pelas Forças Armadas da França, além de
transferência de tecnologia, entre outros pontos.
Especialistas da área militar afirmam
que a oferta francesa para o fornecimento do Rafale seria a mais
cara entre as três concorrentes. Nenhuma das empresas envolvidas no
processo revela valores, alegando questões de concorrência, mas uma
fonte ligada ao gabinete de Sarkozy disse que a oferta francesa é de
cerca de 5 bilhões de euros.
Lula acrescentou nesta sexta-feira
que "a única coisa concreta" que tem até agora é a palavra de
Sarkozy assegurando que as exigências do Brasil de transferência de
tecnologia e de construir as aeronaves no país serão atendidas.
"O presidente Sarkozy até agora foi o
único presidente que disse textualmente para mim que ele quer
transferir não apenas tecnologia para o Brasil mas fazer o avião
aqui e que o Brasil tem disponibilidade para vender o produzido aqui
em toda a América Latina", destacou.
Mesmo assim, Lula ponderou que a
concorrência continua.
"Se alguém quiser ofertar mais, que
oferte. Negociação é assim."
A expectativa da FAB é concluir o
processo de análise técnica até o fim de outubro, para que as
informações sejam então repassadas ao presidente.
"Nós faremos a análise técnica. O
governo irá analisar a parte política e estratégica", disse o
tenente-brigadeiro-do-ar Juniti Saito, comandante da Aeronáutica, em
comunicado separado.