Citando a Comissão Latino-americana
para Drogas e Democracia, da qual é membro, FHC afirma que já é
reconhecida a necessidade de uma mudança de paradigma que substitua
a repressão aos usuários de drogas por estratégias de tratamento e
prevenção. "O desafio é reduzir drasticamente o prejuízo causado às
pessoas, sociedades e instituições públicas pelos narcóticos
ilegais." Esse processo, diz o ex-presidente brasileiro, já teve
início na Argentina e no México, cujo Congresso aprovou uma lei que
remove a penalização criminal para a posse de pequenas quantidades
de drogas para consumo pessoal e imediato. Ele também cita a
Colômbia, primeiro país a adotar essa medida, em 1994, e a
liberalização da legislação sobre drogas na Bolívia e Equador. "A
mudança também é iminente no Brasil", onde a ambiguidade atual na
lei efetivamente abre oportunidades para corrupção e extorsão na
polícia, afirma FHC. "Os parlamentares brasileiros estão perto de
discutirem uma nova lei para abolir a penalização para o consumo de
pequenas quantidades de maconha", acrescenta.
Mas ainda há um longo caminho pela
frente, diz ele, embora o avanço na descriminalização do porte de
drogas permita um paradigma de saúde pública e rompa o silêncio
sobre o problema das drogas. "Isso permite que as pessoas pensem em
termos de abordar o abuso de drogas de uma forma que não seja antes
de tudo uma questão para o sistema de justiça criminal. Reduzir o
prejuízo causado pelas drogas passa pela redução do consumo",
defende Fernando Henrique no artigo. Para ele, nenhum país
desenvolveu uma solução abrangente para o desafio do abuso de
drogas, e uma solução não precisa ser uma escolha rígida entre a
proibição e a legalização. "Abordagens alternativas estão sendo
testadas e devem ser cuidadosamente revisadas, mas está claro que o
avanço envolverá uma estratégia que alcance, paciente e
persistentemente, os usuários", afirma.