Dezenas de soldados soldados do
Exército de Honduras invadiram e tiraram do ar na madrugada de
segunda-feira a emissora Rádio Globo. Os militares também fecharam o
Canal 36, que estava transmitindo apenas um padrão teste.
O decreto do governo, aprovado em
Conselho de Ministros, autoriza a polícia e as forças armadas a
fecharem quaisquer estações de rádio ou televisão "que não ajustarem
sua programação às disposições atuais".
Antecipando a medida, o ministro do
Interior do país, Oscar Matute, disse neste domingo que os veículos
de imprensa que incitarem a violência devem ser regulados pelo novo
decreto. "Há um grupo de veículos que, em vez de focarem na paz e
harmonia, querem espalhar discórdia. Muitos deles confundiram o que
a liberdade de expressão deveria ser", declarou.
O porta-voz do governo interino, Rene
Zepeda, confirmou que as duas emissoras foram retiradas do ar pelo
decreto que fecha meios de comunicação "que atacam a paz e a ordem
pública". O governo não deu mais detalhes ou exemplos de incitação
cometidos pelas emissoras.
Quase 20 policiais e militares
entraram no edifício da emissora de rádio às 5h30 locais (8h30 no
horário de Brasília) e tiraram o sinal da Globo do ar, declarou à
France Presse o jornalista Carlos Paz que trabalha na rádio.
Paz afirmou que não houve resistência
e que, até o momento, não conseguiu localizar o diretor da rádio, o
também jornalista David Romero. Depois de entrar no local, os
policiais começaram a retirar material e equipamentos do edifício da
emissora, que fica na avenida Morazán, centro da capital.
"Desmantelaram a rádio, desmantelaram
a Constituição da República", disse Andrés Pavón, presidente do
Comitê para a Defensa dos Direitos Humanos de Honduras (CODEH). "É
uma agressão total, estamos diante de um regime militar", completou.
A Rádio Globo já havia sido fechada
pelo regime nos primeiros dias após o golpe de Estado que derrubou o
presidente Manuel Zelaya, em 28 de junho passado.
Pressão
O governo Micheletti resiste à
pressão internacional renovada pela volta de Zelaya há uma semana e
endureceu o tom ao dar um ultimato ao Brasil, impedir a missão de
mediação de chanceleres da OEA (Organização dos Estados Americanos)
e editar o decreto de estado de exceção.
As medidas tendem a aumentar o
isolamento internacional de Honduras e liquidam com as chances de um
diálogo entre Zelaya e Micheletti depois de exatos três meses da
crise instaurada pelo golpe de 28 de junho.
Zelaya foi deposto em golpe de Estado
orquestrado pelo Congresso, Suprema Corte e Exército e retornou ao
país, em segredo, no último dia 21. Desde então, ele está refugiado
na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, sob forte cerco policial e
pedidos reiterados para que se entregue à Justiça hondurenha para
enfrentar acusações de violação à Constituição.
No fim da noite deste domingo (27), o
governo divulgou um decreto que prevê o fechamento de meios de
comunicação, a dissolução de reuniões públicas não autorizadas e a
prisão de indivíduos que incitem à insurreição.
Em cadeia nacional de TV, o governo
interino informou que decidiu 'interditar qualquer reunião pública
não autorizada e impedir a transmissão, por qualquer veículo, de
programas que ameacem a paz' --um cenário no qual o fechamento de
uma emissora de rádio não se justificaria.
O decreto suspende por 45 dias a
liberdade de expressão, associação e trânsito, e veda reuniões
públicas não autorizadas pela polícia ou pelo Exército local. Também
autoriza a prisão sem mandados.
Ultimato
Pouco antes, o atual governo
hondurenho pediu ao Brasil que a embaixada brasileira não seja
utilizada para estimular uma insurreição e deu um prazo para a
definição da condição de Zelaya.
O ultimato pedia que o Brasil
decidisse se daria asilo político ao líder deposto, o que abriria
caminho para que ele deixasse o país, ou se o tiraria da embaixada
para ser detido pelas autoridades hondurenhas.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse neste domingo que não cumprirá o ultimato e reiterou que
as leis internacionais protegem a embaixada brasileira. Ele exigiu
ainda desculpas de Micheletti.
O Brasil pediu ante o Conselho de
Segurança das Nações Unidas o respeito à sua missão diplomática, bem
como suas dependências em Tegucigalpa. O Conselho condenou o assédio
à embaixada brasileira. A chancelaria hondurenha informou, ainda,
que não permitirá o retorno dos embaixadores da Argentina, Espanha,
México e Venezuela, retirados logo após o golpe, a menos que esses
países reconheçam o governo interino.
OEA
Mais cedo, o governo interino barrou
a entrada no país de uma delegação da OEA, aumentando o isolamento
do país em meio à elevação da tensão com o Brasil. O grupo de
representantes da OEA tinha a expectativa de tentar costurar uma
saída para a crise política no país após o golpe de Estado que
derrubou Zelaya, mas foi barrado no aeroporto da capital,
Tegucigalpa.
Micheletti já havia adiado, em
agosto, uma visita de ministros da organização com o argumento de
que seu secretário-geral, José Insulza, é parcial na questão ao
defender Zelaya.
Insulza condenou a decisão
'incompreensível' do governo interino. 'Lamentamos esta decisão e a
consideramos incompreensível, posto que o próprio governo interino
de Honduras havia aceitado tanto a próxima visita da missão de
chanceleres como a da comitiva da OEA, que tinha como objetivo
realizar os preparativos da mesma', explicou.