Segundo o presidente, o país precisa
de regras mais fortes para conter o tipo de risco sistêmico visto
dentro da atual crise. "Temos a responsabilidade de escrever e
defender essas regras para proteger consumidores de produtos
financeiros, contribuintes e nossa economia como um todo."
Essas regras, disse Obama, precisam
ser desenvolvidas "de forma a não paralisarem a inovação e o
empreendedorismo". "Queremos trabalhar com o setor financeiro para
alcançar esse fim. Mas os velhos caminhos que levaram a essa crise
não podem ser mantidos (...) A história não pode se repetir."
Obama afirmou que não concorreu à
Presidência dos EUA para resgatar bancos ou interferir nos mercados
de capitais. "Mas é preciso notar que a ausência mesma de regras de
senso comum capazes de acompanhar o ritmo de um setor financeiro
veloz foi que criou a necessidade de intervenção extraordinária."
"A falta de regras sensatas, tão
frequentemente criticadas por aqueles que dizem falar em nome do
livre mercado, levaram a um resgate muito mais intrusivo que
qualquer um de nós (...) teria proposto ou previsto", afirmou.
"Podemos ter confiança de que as
tempestades nos últimos dois anos estão começando a ceder", disse o
presidente, em um discurso hoje, no Federal Hall em Nova York. Ele
disse que a "volta à normalidade" não pode levar à "complacência".
"Não vamos voltar aos dias de
comportamento negligente que estão no coração desta crise. Wall
Street não pode voltar ao comportamento de risco e esperar que
haverá um novo pacote de resgate", afirmou.
O presidente americano afirmou que a
crise atual "não é mais uma crise financeira; ela se tornou uma
ampla crise econômica, com os preços das casas afundando, empresas
lutando para conseguir crédito e uma economia que perde em média 700
mil empregos ao mês".
Reforma
Obama disse que a reforma do sistema
financeiro proposta por seu governo será a maior desde a Grande
Depressão, na década de 30. "Essas reformas estão enraizadas em um
princípio simples: devemos estabelecer regras claras que promovam
transparência e prestação de contas", afirmou.
A primeira proposta é de criar a CFPA
(Agência de Proteção Financeira do Consumidor, na sigla em inglês),
a fim de garantir que os consumidores tenham informações 'claras e
concisas' e que evitem os piores tipos de abusos.
Além disso, o governo pretende acabar
com lacunas e sobreposições nas regulamentações atuais, de forma a
evitar que conflitos de autoridade levem a falta de ação por parte
do governo. "Essas fraquezas na supervisão engendraram abusos
sistêmicos e sistemáticos", disse.
Por fim, é preciso acabar com as
lacunas existentes entre países, disse Obama. Ele lembrou os
esforços na reunião do G20 (grupo que reúne representantes de países
ricos e dos principais emergentes) em Londres, realizada em abril,
para regulamentar os mercados financeiros globais e disse que essa
tarefa continuará na reunião do grupo marcada para os dias 24 e 25
deste mês em Pittsburgh (EUA).
Segundo Obama, o G20 "se mostrou um
fórum eficiente para coordenar políticas entre os principais países
desenvolvidos e emergentes, e que terá um papel importante no
futuro".
Culpa dos consumidores
Obama
lembrou que a culpa pela atual situação da economia não é apenas das
"mais poderosas das empresas financeiras". "[Essa crise] também é
resultado de decisões feitas por americanos comuns, de fazer cartões
de crédito e assumir hipotecas", afirmou. Embora haja muitos que
assumiram empréstimos "que sabiam que não podiam pagar", milhões de
outros americanos "assinaram contratos que não entendiam
completamente, oferecidos por emprestadores que sem sempre lhes
dizia a verdade".
"Os consumidores não deveriam ter de
se preocupar com contratos de empréstimo feitos para serem
incompreensíveis, taxas ocultas ligadas a suas hipotecas e
penalidades financeiras."
Responsabilidade
Obama
disse que restaurar a vontade de assumir a responsabilidade, mesmo
em momentos difíceis, está "no coração do que devemos fazer". Obama
disse que as reformas propostas serão aprovadas e se tornarão lei,
mas "uma das formas mais importantes de reconstruir o sistema mais
forte que antes é reconstruir a confiança de forma mais forte que
antes, e não é preciso esperar uma lei para isso".
"Não é preciso esperar uma lei para
usar uma linguagem simples no trato com os consumidores. Não é
preciso esperar uma lei para colocar em votação os pagamentos de
bônus de seus executivos", afirmou.
"O fato é que muitas das empresas que
estão agora voltando à prosperidade têm um grande débito com o povo
americano", ressaltou Obama. "Embora eles não tenham sido a causa da
crise, os contribuintes americanos, através do governo, adotaram uma
ação extraordinária para estabilizar o setor financeiro."