Enquanto o governo afirma que a nova
usina, que tem previsão para entrar em funcionamento em 2015, pode
beneficiar 26 milhões de brasileiros, críticos argumentam que o
impacto ambiental e social da instalação de Belo Monte foi
subestimado e apontam para uma suposta ineficiência da hidrelétrica.
A BBC Brasil preparou uma série de
perguntas e respostas que explicam a polêmica em relação à usina.
O que é a Usina Hidrelétrica de
Belo Monte?
Com projeto para ser instalada na
região conhecida como Volta Grande do Rio Xingu, no Pará, a Usina de
Belo Monte deve ser a terceira maior do mundo em capacidade
instalada, atrás apenas das usinas de Três Gargantas, na China, e da
binacional Itaipu, na fronteira do Brasil com o Paraguai.
De acordo com o governo, a usina terá
uma capacidade total instalada de 11.233 megawatts (MW), mas com uma
garantia assegurada de geração de 4.571 megawatts (MW), em média.
O custo total da obra deve ser de R$
19 bilhões, o que torna o empreendimento o segundo mais custoso do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), atrás apenas do
trem-bala entre São Paulo e Rio, orçado em R$ 34 bilhões.
A usina deve começar a operar em
fevereiro de 2015, mas as obras devem ser finalizadas em 2019.
Qual a importância do projeto,
segundo o governo?
Uma das grandes vantagens da usina de
Belo Monte, de acordo com o governo, é o preço competitivo da
energia produzida lá, que não poderá ultrapassar o custo de R$ 83
por Megawatt-hora (MWh).
Segundo o presidente da estatal
Empresa de Pesquisa Energética, Mauricio Tolmasquim, este custo
representa pouco mais que a metade da produzida em uma usina
termelétrica, por exemplo, com a vantagem de ser uma fonte de
energia renovável.
Além disso, a construção de Belo
Monte deve gerar 18 mil empregos diretos e 23 mil indiretos e deve
ajudar a suprir a demanda por energia do Brasil nos próximos anos,
ao produzir eletricidade para suprir 26 milhões de pessoas com
perfil de consumo elevado.
Quem são os grupos contrários à
instalação de Belo Monte e o que eles argumentam?
Entre os grupos contrários à
instalação de Belo Monte estão ambientalistas, membros da Igreja
Católica, representantes de povos indígenas e ribeirinhos e
analistas independentes.
Além disso, o Ministério Público
Federal ajuizou uma série de ações contra a construção da usina,
apontando supostas irregularidades.
Coordenador de um painel de
especialistas críticos ao projeto, Francisco Hernandez, pesquisador
do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São
Paulo, afirma que a instalação de Belo Monte provocaria uma
interrupção do rio Xingu em um trecho de cerca de 100 km, o que
reduziria de maneira significativa a vazão do rio.
"Isso causará uma redução drástica da
oferta de água dessa região imensa, onde estão povos ribeirinhos,
pescadores, duas terras indígenas, e dois municípios", diz
Hernandez, que afirma que a instalação de Belo Monte também afetaria
a fauna e a flora da região.
Além das questões ambientais, alguns
críticos apontam que a usina de Belo Monte pode ser ineficiente em
termos de produção de energia, devido às mudanças de vazão no rio
Xingu ao longo do ano.
Segundo Francisco Hernandez,
dependendo da estação do ano, a vazão do rio Xingu pode variar entre
800 metros cúbicos por segundo e 28 mil metros cúbicos por segundo,
o que faria com que Belo Monte pudesse produzir apenas 39% da
energia a que tem potencial por sua capacidade instalada.
Como o governo responde a essas
críticas?
De acordo com o diretor de
Licenciamento do Ibama, Pedro Bignelli, uma das condicionantes
impostas na licença prévia para o empreendimento determina que seja
mantida uma vazão mínima no rio.
Além disso, ele afirma que há
projetos de preservação da fauna e flora e que as comunidades que
forem diretamente afetadas serão transferidas para locais onde
possam manter condições similares de vida. Ele também nega que as
comunidades indígenas serão diretamente atingidas.
Já em relação à eficiência, o
presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Mauricio Tolmasquim,
admite que Belo Monte não produzirá toda a energia que permitiria
sua capacidade instalada, mas afirma que, mesmo assim, a tarifa será
competitiva o bastante para justificar sua instalação.
Segundo ele, o motivo para a redução
na produção de energia está nas modificações feitas no projeto para
diminuir o impacto da usina na região.
Qual o histórico do projeto?
As prospecções a respeito do
potencial de geração de energia da Bacia do Xingu começaram nos anos
1970, e, na década seguinte, havia a previsão da construção de seis
usinas na região, entre elas Belo Monte.
Após protestos de líderes indígenas e
de ambientalistas, o projeto de Belo Monte foi remodelado e
reapresentado em 1994, com a previsão de redução da área represada,
o que evitaria a inundação de terras indígenas.
Depois de uma série de idas e vindas,
o Conselho Nacional de Política Energética definiu em 2008 que a
usina de Belo Monte seria a única a explorar o potencial energético
do Rio Xingu.
Em fevereiro de 2010, o Ibama
concedeu a Licença Prévia para Belo Monte, impondo uma série de 40
condicionantes socioeconômicas e ambientais ao projeto.
Em março, a Aneel marcou para o dia
20 de abril a realização do leilão que decidirá qual será o
consórcio de empresas responsável pela construção da usina.
Como será este leilão?
O vencedor do leilão será o grupo que
oferecer o menor preço para a produção do Megawatt-hora (MWh) de
energia, respeitando-se o teto estabelecido de R$ 83 por MWh.
Dois consórcios devem participar da
disputa, um de seis empresas, encabeçado pela empreiteira Andrade
Gutierrez, e outro de nove companhias, liderado pela Queiroz Galvão
e que decidiu entrar no páreo apenas nos últimos dias.
Até a semana passada, apenas o
consórcio liderado pela Andrade Gutierrez estava oficialmente no
páreo, após a desistência do grupo encabeçado por Camargo Corrêa e
Odebrecht, no início de abril.
A desistência acendeu a luz amarela
no governo, que lançou um pacote de medidas para estimular a
participação privada no leilão, entre elas, um desconto de 75% no
imposto de renda da usina nos primeiro dez anos de operação, além da
ampliação para 30 anos do prazo para o financiamento pelo BNDES, que
pode financiar até 80% da obra.
Além disso, os dois consórcios contam
com participações bastante relevantes de empresas estatais e
informações divulgadas pela imprensa dão conta de que a Eletronorte,
subsidiária da Eletrobrás, poderia integrar o consórcio vencedor
após o leilão. A informação, no entanto, não é oficialmente
confirmada pela empresa.