Embora a usina esteja prevista para
ser construída no Pará, o cacique Megaron disse que não se pode
esquecer que o Rio Xingu nasce em Mato Grosso. Ele acredita que o
rio será "atingido em toda sua constituição e todos que dependem
dele serão prejudicados". O rio corta o Pará e deságua no Rio
Amazonas. Tem 1,8 mil quilômetros de extensão. "Todos os povos
indígenas serão prejudicados. Nossa pesca, nossas matas, vai ser
muito feio mexer com o rio. Não podemos ficar esperando que governo
se preocupe com os índios, por isso não vamos desistir da luta"
afirmou Megaron.
O descontentamento dos kaiapós com a
construção de hidrelétrica no Rio Xingu é antiga. Há 20 anos,
reuniões entre kaiapós e representantes do governo terminaram em
cenas violentas. Os caciques Raoni e Megaron, líderes dos Caiapós no
Estado, prometeram engrossar os protestos em Altamira (PA) com no
mínimo 100 índios considerados "guerreiros". "Mas isso não vai
enfraquecer nossas manifestações aqui na Aldeia Piaraçu", observou
Megaron.
O cacique Raoni Metuktire disse que a
represa pode atingir seu povo. "Estou muito preocupado com o futuro
de meus netos, meus bisnetos, por isso luto para manter a terra e o
Rio Xingu como são agora".
Hoje, representantes de entidades de
movimentos sociais de Mato Grosso que participavam de um ato
organizado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no centro da
cidade vaiaram quando souberam do resultado do leilão. "É uma falta
de respeito com os povos indígenas que irão ser afetados e além
disso é o dinheiro público que está sendo usado de maneira
irresponsável", disse o representante do Fórum Permanente de Luta
contra a Violência em Mato Grosso, Inácio José Werner.