As bancadas parlamentares dos
partidos que formam a coalizão de governo na Alemanha - a união
conservadora CDU/CSU e o Partido Liberal (FDP) – selaram acordo em
Berlim a respeito da legalização do uso medicinal da Cannabis sativa
no país.
O ministro alemão da Saúde, Philipp
Rösler, afirmou nesta quarta-feira (18/08) que vítimas de
enfermidades como a esclerose múltipla, por exemplo, poderão fazer
uso de tais medicamentos, a fim de minimizar o sofrimento e as dores
causadas pela doença.
Segundo o ministro, não é necessária,
contudo, uma mudança nas leis para que esse tipo de medicamento
passe a ser permitido no país, bastando, para tal, apenas um decreto
de seu ministério.
Rösler acredita que isso possa ser
feito de maneira "relativamente rápida", uma vez que autorizações
semelhantes já existem em vários outros países europeus. Para a
aquisição de tais medicamentos, salienta o ministro, deverá ser
necessária uma receita especial para entorpecentes, a ser
devidamente preenchida pelo médico.
Os planos de mudança na legislação
por parte dos partidos da coalizão regulamentam o uso de tais
medicamentos e preveem que hospitais especiais para doentes
terminais e unidades de tratamento ambulante da dor possam manter
estoques de entorpecentes para tratar seus pacientes.
Passo importante
Doentes terminais, associações de
pacientes e defensores da Cannabis reivindicam há muito o uso da
substância para fins medicinais. Consumido na maioria das vezes
através da maconha ou haxixe, o principal composto químico
psicoativo da Cannabis é o THC (tetrahidrocanabinol), considerado
eficaz no combate à dor, como também no alívio dos sintomas
provocados por doenças como o câncer e a esclerose múltipla.
Segundo Eugen Brysch, diretor da
Fundação Alemã de Hospitais Especiais para Doentes Terminais
(Deutsche Hospiz Stiftung), diante da enorme dificuldade de
conseguir medicamentos à base de Cannabis, muitos pacientes são hoje
forçados a obter a substância por meios ilegais.
A encarregada do governo federal para
questões relacionadas às drogas, Mechthild Dyckmans, também elogiou
a iniciativa de Berlim, considerada por ela "um passo importante" no
tratamento de doenças graves e pacientes terminais.
Novo mercado
"Chegou a hora de limpar a imagem da
Cannabis", afirmou Gerhard Müller-Schwefe, presidente da Sociedade
Alemã de Terapia da Dor. O novo decreto poderá, segundo ele, abrir
um novo mercado de analgésicos no país.
"Pois acontecem com frequência casos
em que pacientes vítimas de dores fortes necessitam de medicamentos
à base de ópio no fim de semana e as farmácias não podem
disponibilizá-los, por não terem permissão de manter tais remédios
em estoque", salientou Müller-Schwefe.
A organização "Cannabis como
medicamento" (ACM) criticou, contudo, a medida do governo, apontando
que, na prática, para os pacientes, a nova portaria não deverá
implicar mudança alguma.
Segundo Franjo Grotenhermen, diretor
da organização, os partidos da coalizão de governo decidiram apenas
que um medicamento pode ser liberado, caso um representante da
indústria farmacêutica entre com um pedido para tal. Até agora,
observa Grotenhermen, há somente um pedido oficial para a fabricação
de um remédio à base de Cannabis, a ser usado do combate da
esclerose múltipla. "Pacientes vítimas de outras enfermidades não
terão acesso aos medicamentos adequados", diz ele.
Hoje, remédios fabricados à base da
Cannabis sativa só podem ser obtidos com enorme dificuldade na
Alemanha. Segundo informações fornecidas pela ACM, só há em todo o
país 40 pessoas com permissão oficial para fazer uso desse tipo de
medicamento.