Depois do nascimento do filho, os
pais têm direito a cinco dias de licença. As mães, por sua vez, se
ausentam por quatro meses do trabalho e, no caso de algumas empresas
que aderiram ao programa de isenção fiscal do governo, a seis. Mas
isso pode mudar. Projeto aprovado no Senado Federal no final do ano
passado amplia a licença-paternidade para quatro meses em casos de
falta definitiva ou eventual dos cuidados da mãe. A medida valeria
para casos de doença grave ou morte da mãe, guarda exclusiva do pai
ou abandono da criança pela mãe. Além disso, os pais adotivos
ganhariam mais dias com os recém-chegados em caso de adoção por
solteiros ou se o casal escolher que o homem tirará a licença.
Claro que o melhor, sempre, é a
criança ficar aos cuidados da mãe, mas nem sempre a vida corresponde
ao ideal, a gente bem sabe. “O substituto nunca é a mesma coisa que
a mãe, porque a função materna exercida pela mãe é diferente da
exercida pelo pai. Mas, se a mãe está impossibilitada de cuidar da
criança, é uma questão de bom senso que seja o pai o substituto”,
diz a psicanalista Eliana Nazareth, mãe de Marcelo e Fernando.
Durante a gravidez, a mulher constrói um forte vínculo com seu bebê
e passa por uma adaptação biológica e psíquica para recebê-lo. Por
essa razão, Eliana aponta que a mãe está mais preparada que o homem
para cuidar do filho no início. Voluntária na preparação dos
pretendentes a adoção, Hália de Sousa, mãe de Renata e Fernanda,
concorda: “Ela tem o instinto maternal mais desenvolvido.”
Mas, se para os bebês o apego à mãe é maior que com o pai, o mesmo
não vale para os que chegam à família com mais idade. Segundo Hália,
filhos adotados depois dos 3 anos precisam da presença do pai e da
mãe, pois têm mais dificuldades de adaptação. “Eles já têm
recordações de uma história com sofrimento”, conta ela, que se
baseia também na experiência própria - Hália adotou as filhas ainda
bebês, mas suas netas chegaram à nova casa com 5 e 7 anos. Nesses
casos, tanto o pai quanto a mãe devem estar presentes nos primeiros
dias. O projeto de lei aprovado no Senado, porém, não prevê a junção
das licenças do homem e da mulher, pois envolve apenas a
substituição da licença da mãe pela do pai.
Autor do projeto, o senador Antonio Carlos Valadares (PSB – SE)
explica que a ideia é “ampliar a noção de que a responsabilidade
pelo lar é de homens e mulheres, indistintamente”. Faz sentido já
que, em países onde a legislação cria condições mais parecidas para
homens e mulheres no que se relaciona aos cuidados com os filhos, há
menos diferenças salariais: ao contratar, as empresas já sabem que
podem ter de prescindir daquele funcionário por alguns meses caso
tenha filho, seja ele homem ou mulher. Entretanto, a psicanalista
Eliana diz que a medida em nada ajuda na divisão de
responsabilidades, pois as transfere de um membro da família para
outro. Para ela, a solução seria as empresas concederem ao empregado
que acaba de se tornar pai uma redução da jornada de trabalho por
pelo menos 30 dias. "Estaríamos construindo uma família mais
equilibrada”.