"Meu pai me contou que o Forza Italia
era o fruto de uma negociação entre o Estado e a máfia", explicou
Massimo Ciancimino, filho de Vito Ciancimino, polêmico político
siciliano morto em 2002, líder local da antiga Democracia Cristã,
condenado pela justiça por pertencer à Cosa Nostra.
As declarações de Massimo, feitas
perante uma corte de justiça, geraram enorme comoção na classe
política.
O ministro da Justiça, Angelino
Alfano, desmentiu imediatamente o comentário.
"Estão tentando desacreditar o
governo de Berlusconi, que lutou na linha de frente contra a Cosa
Nostra", disse Alfano, também siciliano, lembrando sua militância na
Forza Italia desde 1994.
Segundo Massimo Ciancimino, que em
2009 decidiu revelar à justiça informações reservadas da própria
família, o pai negociou com a máfia um pacto de não-agressão para
pôr fim à onda de ataques e atentados perpetrados pela organização
criminosa, como os assassinatos, em 1992, dos dois prestigiados
juízes antimáfia Giovanni Falcone e Paolo Borsellino.
O Forza Italia, fundado em 1993 pelo
magnata das comunicações Silvio Berlusconi e por seu braço direito,
o siciliano Marcello Dell'Utri, saiu vencedor das eleições
legislativas um ano depois, quando Berlusconi chegou pela primeira
vez ao cargo de primeiro-ministro.
O filho de Ciancimino, que apresentou
documentos e cartas do pai, garantiu que o 'capo' mafioso Bernardo
Provenzano enviou uma de suas famosas mensagens cifradas (pizzino) a
Vito, para que a entregasse a Berlusconi e Dell'Utri, na qual chega
a ameaçar os filhos do atual primeiro-ministro.
O senador Dell'Utri acusou Massimo
Ciancimino de "inventar tudo e de estar à beira da loucura",
afirmando que o partido de Berlusconi não representava o Estado nem
estava em condições de oferecer ou negociar acordos deste tipo na
época.
Dell'Utri também indicou que
denunciará o filho do ex-prefeito por difamação.
"Não acredito em nada do que diz
Ciancimino. São declarações que terminam por desacreditar os
arrependidos, aqueles que saem da organização e confessam tudo à
justiça", comentou o deputado europeu de esquerda Pino Arlacchi, um
dos fundadores da organização Antimafia.
"O Forza Italia foi uma bem sucedida
operação comercial e política, muito sofisticada, e seu triunfo não
teve nada a ver com negociações entre a máfia e o Estado",
acrescentou.