A agência se baseou em dados do
estudo Scout, que avaliou 10 mil pacientes durante seis anos e
apontou risco de evento cardiovascular maior entre os que usavam o
remédio. A maioria dos pacientes avaliados pelo trabalho já
apresentavam doença cardíaca.
"No entanto, como pacientes obesos e
com sobrepeso são mais propensos a ter um alto risco de eventos
cardiovasculares, o comitê [da Emea] acredita que os dados do Scout
são relevantes para o uso do remédio na prática clínica", afirmou a
agência em nota.
O laboratório Abbott, fabricante de
drogas com sibutramina (Meridia e Reductil), parou de comercializar
as drogas na Europa. No Brasil, os remédios continuam disponíveis.
Aqui, o medicamento é de uso
controlado, sendo vendido somente com receita médica retida. A bula
aborda o risco de aumento de batimentos cardíacos e da necessidade
de cautela do uso em pacientes com problemas cardiovasculares.
"A sibutramina aumenta a pressão
arterial e os batimentos cardíacos. Há um maior estímulo no sistema
nervoso simpático, que, quando muito ativado, pode elevar o consumo
de oxigênio do coração e o risco de arritmias cardíacas", afirma o
cardiologista Raul Dias dos Santos, diretor do setor de lípides do
InCor, em São Paulo.
Para os endocrinologistas ouvidos
pela Folha, a suspensão não se justifica, e os pacientes que
utilizam a droga com acompanhamento médico não devem suspender o
uso.
"A mensagem do Scout é simples: não
pode dar para paciente coronariano, hipertenso. E só. É um
medicamento seguro, testado, com resultados muito bons. Tenho
experiência há mais de 12 anos", diz o endocrinologista Alfredo
Halpern, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do
Hospital das Clínicas de SP.
Halpern acredita que haja preconceito
contra as drogas para emagrecer. "Se fosse remédio para pressão ou
depressão, não haveria tanta celeuma. Toda vez que aparece um
remédio que ajuda na obesidade, sai um estudo enorme que mostra que
morre um a mais em cada mil e é suficiente para retirá-lo do
mercado."
Márcio Mancini, presidente do
departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia
e Metabologia, diz ter ficado "chocado" com a notícia. "É um remédio
bem tolerado, que auxilia muito no tratamento de uma doença grave
que é a obesidade. Centenas de estudos mostram benefícios na melhora
de doenças relacionadas ao excesso de peso, como apneia do sono e
diabetes."
Santos, do InCor, afirma que a perda
de peso com medicações pode não trazer os mesmos benefícios da perda
natural, com dieta e exercícios. "O remédio pode ativar algum
sistema no organismo que pode ser deletério. Isso pode limitar a
melhora dos parâmetros relacionados a risco cardiovascular, como
nível de glicose, inflamação e colesterol no sangue."
Existem cerca de 20 medicamentos no
país com sibutramina. Ela também pode compor fórmulas preparadas em
farmácias de manipulação.
Segundo a Junta Internacional de
Fiscalização de Entorpecentes, o Brasil é um dos maiores
consumidores de anorexígenos (classe de emagrecedores) do mundo --a
sibutramina figura entre os mais vendidos no país nessa categoria.