"Nós tínhamos firmado alguns
compromissos na frente de um funcionário da Embaixada da Espanha em
Havana", disse Gálvez a jornalistas, no hotel madrilenho onde os
dissidentes estão hospedados com suas famílias, cerca de 70 pessoas
no total. "A primeira coisa que deixamos de receber (do governo
espanhol) foi o assessoramento jurídico".
Três organizações sociais se
encarregaram da manutenção, alojamento e busca de empregos para as
pessoas do grupo até que a situação legal delas seja resolvida na
Espanha. Em princípio, o governo espanhol disse que concederá
permissões de trabalho e residência aos exilados, embora não o
status de refugiado político, uma condição que alguns deles desejam
reclamar. À espera da solução dos trâmites burocráticos, os cubanos
vivem num hotel na periferia de Madri, no coração de um bairro
operário sem comércio nem lojas por perto. A alguns dos dissidentes
foi oferecida a possibilidade de ir viver em outra cidade espanhola,
mas a maioria prefere permanecer em Madri. Outros manifestaram a
vontade de ir embora para os Estados Unidos, onde têm parentes que
vivem em Miami.
Além disso, Gálvez leu uma declaração
conjunta dos 11 dissidentes, na qual eles expressam o rechaço à
modificação da chamada "Posição Comum" da União Europeia, defendida
pela Espanha. Esta política, em curso desde 1996, condiciona as
relações plenas entre Bruxelas e Havana a mudanças no sistema
político comunista da ilha. "O governo cubano não deu passos que
evidenciem uma decisão clara de avançar em direção à democratização
do nosso país", afirmaram. "Nossa saída para a Espanha não pode ser
considerada um gesto de boa vontade, mas uma busca desesperada do
governo cubano por credibilidade de qualquer tipo", afirmaram.
O secretário-geral da Organização das
Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, elogiou as libertações, mas pediu
um compromisso maior do governo de Raúl Castro com os direitos
humanos. Os 11 dissidentes que puderam partir para a Espanha fazem
parte do chamado "Grupo dos 75", preso em 2003, que Cuba se
comprometeu a libertar no prazo de três a quatro meses, em seguida a
um acordo fechado com a Igreja Católica. O governo espanhol, que
participa do diálogo, se ofereceu para receber os presos que desejem
sair da ilha. No final de semana passado, o chanceler espanhol,
Miguel Ángel Moratinos, anunciou que outros 9 dissidentes cubanos
chegarão à Espanha na terça-feira, com o que serão 20 os dissidentes
no país ibérico.