"Gostaria que o país se apaixonasse
pelos grandes problemas atuais como a saúde, a organização da saúde,
a aposentadoria, como criar crescimento, ao invés de embalar-se com
o horror da calúnia, que só tem um objetivo, denegrir sem nenhum
apoio na realidade", afirmou Sarkozy, em uma mesa redonda sobre
medicina nas proximidades de Brie-Comte-Robert, sul de Paris.
A acusação foi feita na véspera pela
ex-contadora de Bettencourt, identificada como Claire T., que disse
ao site Mediapart que o gestor da multimilionária, Patrice de
Maistre, teria repassado 150 mil euros em efetivo para a campanha
presidencial de Sarkozy. O dinheiro teria entregue ao amigo de
Maistre, Eric Woerth, então tesoureiro da União do Movimento Popular
(UMP, direita) e da campanha de Sarkozy.
Woerth foi ministro de Orçamento por
três anos e agora está à frente do Ministério do Trabalho como
peça-chave do governo, a cargo da reforma do sistema de
aposentadorias, uma das mais polêmicas implementadas pelo
presidente.
O presidente francês lamentou que
atualmente "há mais interesse pela pessoa que cria um escândalo do
que pela pessoa que cura, que trabalha ou que constrói".
O próprio Woerth, cuja renúncia é
vista como iminente pela imprensa francesa, também negou
terminantemente ter recebido dinheiro ilegal de Bettencourt. "Nunca
recebi no plano político o mínimo euro que não fosse legal",
afirmou.
Gravações feitas ilegalmente por um
mordomo revelam o conteúdo das conversas entre Bettencourt e seus
conselheiros financeiros, com tópicos que vão de contas secretas na
Suíça à doação de uma ilha de luxo privada para um amigo.
Nestas gravações aparece ainda o nome
da mulher de Woerth, Florence, em conversa sobre operações
financeiras para a herdeira da L'Oreal sonegar impostos. Os
interlocutores dão a entender que o próprio Woerth, então ministro
do Orçamento, estaria consciente das operações, a ponto de uma parte
da fortuna de Bettencourt ser administrada, desde 2007, pela sua
mulher.
ANO DIFÍCIL
Sarkozy enfrenta um ano difícil para
sua imagem. Em janeiro deste ano, a justiça francesa absolveu o
ex-premiê Dominique de Villepin, principal acusado no caso
Clearstream de conspiração e manipulação política para sabotar a
candidatura de Sarkozy à Presidência em 2007.
O veredicto representa um golpe
contra Sarkozy, que não fazia segredo sobre considerar Villepin um
de seus maiores inimigos quando os dois faziam parte do governo do
ex-presidente Jacques Chirac (1995-2007).
Villepin, ex-premiê de Chirac, e
outras quatro pessoas foram acusados de tramar um plano que
consistia em levar à justiça uma lista falsa de personalidades com
contas ocultas no Clearstream, organismo financeiro de Luxemburgo.
Entre elas, estava Sarkozy, então ministro do Interior, que aparece
com os nomes Stephane Bocsa e Paul de Nagy. O nome completo do
francês é Nicolas Paul Stephane Sarkozy de Nagy-Bocsa.
Sarkozy, que ao explodir o escândalo
no fim de 2006 havia prometido "pendurar o responsável num gancho de
açougue", era um dos 41 autores civis do processo contra Villepin.