A arquiteta Carolina*, 31 anos, é
bonita, bem sucedida profissionalmente e extrovertida. Sai sempre
com os amigos - que não são poucos - e convive muito bem com a
família. Ela namorou sério apenas uma vez, há oito anos. Não é de
ficar com qualquer pessoa e gosta de se envolver com homens por quem
sente atração. Carolina diz estar aberta para namorar, mas não
consegue. "Têm muita mulher solteira por aí e, além disso, os homens
estão amadurecendo mais tarde. Os da minha idade não estão
coniventes com uma cabeça de 30 anos", analisa a arquiteta. A frase
que ela mais ouve, tanto dos "pretês" quanto dos amigos falando para
as interessadas neles, é: "Estou curtindo, não quero nada sério".
Boicote
Muitas atitudes podem afastar um possível amor. Mas, de acordo com
especialistas, todas possuem algo em comum: o auto boicote. Na
maioria das vezes inconscientemente, as pessoas têm medo de sofrer,
do rompimento ou até mesmo de experimentar o afeto. Segundo a
psicóloga Jacy Bastos Torres Lima, especialista em relacionamentos e
coordenadora do Grupo para Orientação para Descasados (Godes), em
São Paulo, assim, sem perceber, transferem esse temor para suas
atitudes. "Um exemplo comum é a busca pelo príncipe encantado. A
pessoa não fica com qualquer um na espera dele aparecer. Só que ele
não existe", explica Jacy. "Por trás disso, pode estar o medo e a
insegurança de se relacionar", completa.
Carolina, a arquiteta que não arruma
um namorado, confessa que possui personalidade forte e é um
pouquinho exigente: "Além daquelas características mínimas como ser
trabalhador, sincero e companheiro, gosto de homem inteligente, com
raciocínio rápido. Quanto ao físico, presto atenção na boca". Ainda
lembra que não é de dar fora. "Porque deixo claro quando não estou
afim da pessoa. Não dou abertura para me pedir em namoro se está
óbvio que não quero", afirma. Para Jacy, as pessoas exigentes ou
fechadas - este pode ser o caso da Carolina - devem avaliar o porquê
dessa atitude. "Pode ser medo de sofrer", conta.
Experiências desastrosas
Alexadre Bez, psicólogo especializado em relacionamento pela
Universidade de Miami, Estados Unidos, e Membro da Associação
Psicológica Americana (APA), revela que muitas pessoas tentam entrar
em relacionamentos sem perceber que estão traumatizadas. "Elas têm
receio de envolvimento emocional porque já sofreram no passado, mas
nem se dão conta", afirma. Para ele, um exemplo típico de equívoco é
o ditado popular "os opostos se atraem". "Nada disso. Em algum
momento essa pessoa ficou traumatizada com alguém que tem tudo a ver
com ela e buscou um oposto daquilo", conta Bez. O trauma não é,
necessariamente, derivado de uma relação a dois. Pode ter sido
causado por experiências desagradáveis em família.
Outro caso que pode representar
boicote em forma de autodefesa é sempre se relacionar com pessoas
que provavelmente não vão se envolver. "Tem gente, por exemplo, que
só gosta do famoso 'malandro'", afirma Bez. "No fundo, a pessoa sabe
que ele não vai assumir, mas se engana, cria uma ilusão de que pode
ficar com ele", completa Bez. "Se as escolhas são sempre
desastrosas, a pessoa deve repensar quem ela deixa se aproximar da
vida dela", Jacy dá a dica.
Esse é o caso de Luísa*. A
publicitária de 29 anos até consegue engatar um namoro. Só que não
passa do primeiro mês. Ela assume que é insegura e que faz questão
de demonstrar o quanto está afim da pessoa. Tanto, que passa do
limite. E, quando os caras estão completamente apaixonados por
Luísa, é ela quem desiste da relação. "Tem gente que, quando possui
mais intimidade com alguém, se sente tão livre que transfere para o
outro questões emocionais mal resolvidas em outras situações",
explica Jacy. A pessoa no começo do namoro é uma, depois vira outra.
"Tudo bem que o outro tem que aceitar você do jeito que é, mas todos
devem ter autocrítica, perceber quando transfere para o outro uma
maior cobrança, por exemplo", afirma a psicóloga.
Desse modo, é preciso ter consciência
de quem você deixa se aproximar da sua vida e como se relaciona com
os pretendentes. "Tem gente que não tem critério, que é como um
vira-lata. Basta fazer carinho para se dar todo", afirma Jacy. Os
psicólogos ressaltam que todos devem limpar as migalhas - rolos mal
resolvidos, não se envolver com pessoas já compromissadas - e focar
no que quer. Se permitir conhecer as pessoas, mas sem se entregar
totalmente. "Entrar de cabeça em uma relação pode causar uma
frustração muito grande", conta Bez. Também não depositar no outro -
seja pretê ou namorado - a felicidade da vida. "Nunca gravite em
cima de uma pessoa. Sua vida é muito mais que isso. São os amigos,
as baladas, a academia, o trabalho, o curso", diz Jacy. O importante
é curtir até que, quando menos esperar, o amor estará ao seu lado.
* Os nomes foram trocados a pedido
das entrevistadas.