O cartão foi produzido durante a aula
de informática que Remo tem na escola Materna, em São Bernardo do
Campo (Grande SP). No ano que vem, quando ele fizer quatro anos, a
aula passará a ser semanal e ele aprenderá a usar programas como o
Word e o Power Point.
A computação tornou-se assunto sério
em algumas escolas de ensino infantil. Entretanto, há educadores que
acham que esse aprendizado está ficando cada vez mais precoce.
Há casos, como o do Magister, na zona
sul de São Paulo, em que os alunos já aprendem a usar computadores
aos dois anos, quando ainda estão no mini-maternal. Eles têm,
inclusive, um laboratório específico, com computadores de teclados
grandes e coloridos.
"Eles chegam à escola com informações
bem pertinentes à era em que eles vivem. Manuseiam o celular da mãe,
máquinas fotográficas", explica a coordenadora da educação infantil
do Magister, Rosana Ziemniak.
Segundo ela, nessa faixa etária os
alunos usam programas específicos, com joguinhos que tocam música.
"Tentamos desde as séries iniciais
contextualizar o conteúdo, tendo a informática como instrumento. A
tecnologia também faz parte da matriz de habilidades e competências
do Enem no fim do ensino médio."
No Pentágono, as atividades
tecnológicas com as crianças começa aos quatro anos. É quando elas
deixam de ter duas aulas de educação física por semana para ganhar
uma de informática.
"Ela entra como suporte, para
complementar o que é desenvolvido na sala de aula", conta Cláudia
Mileu, coordenadora da educação infantil da unidade Morumbi (zona
oeste). Se a criança está aprendendo números e cores, por exemplo,
tem uma atividade lúdica no computador sobre isso.
Apesar de ter se emocionado com o
presente feito pelo filho, Fábia confessa que inicialmente não via
com bons olhos as aulas de informática.
"Sempre acreditei que criança tem que
brincar. Vejo muitas crianças que ficam em videogame, no computador
o dia inteiro, e tinha um pouco de receio disso", conta. "Mas se eu
excluí-lo da tecnologia, quando ele tiver uns dez anos vai ficar
para trás."
Silvia Fichmann, consultora de
tecnologia da educação em escolas como a Stance Dual, concorda. "As
escolas precisam acompanhar o ritmo da nossa sociedade, que é
multimídia. E elas estão aprendendo a usar o computador para
enriquecer o trabalho da sala de aula."
Contraindicado
Para alguns educadores, no entanto,
essas aulas são inúteis e até prejudiciais.
"O tempo de atenção de crianças de
até quatro anos chega no máximo a dez minutos. Forçar crianças [a
ficar na frente de um computador] é contraindicado", diz Regina de
Assis, consultora em educação e mídia e professora aposentada da
Faculdade da Educação da Uerj (Universidade do Estado do Rio de
Janeiro).
"Há atividades muito mais ricas e
proveitosas que poderiam fazer nesse tempo para desenvolver a
coordenação motora."
Para ela, o uso precoce do computador
pode trazer danos visuais, já que os órgãos visuais não estão
totalmente desenvolvidos, e até problemas motores, pela diminuição
da movimentação corporal.
A opinião é compartilhada pelo
professor de ciência da computação Valdemar Setzer, da USP.
"As crianças deveriam aprender
brincando. O computador prejudica o desenvolvimento da imaginação
porque já apresenta na tela tudo pronto. Nessa idade, a criança tem
que brincar com coisas que a ajudem a imaginar. Depois, ela se torna
um adulto sem imaginação, que não sabe resolver problemas com
criatividade", diz.