"Os Estados Unidos, em vez de buscar
erradicar o narcotráfico, só o protege, encobre e fomenta o
narcotráfico, o usa para um controle político de nossos países para
nos condicionar e chantagear", disse Morales durante um ato público.
"Esta ajuda com a participação dos
Estados Unidos, com esses fundos...me animaria a dizer que incentiva
o narcotráfico. Como é possível que juízes e promotores que recebem
dinheiro da NAS norte-americana podem libertar esta classe de
narcotraficantes?", afirmou Morales, referindo-se ao sequestro de um
possível chefe de um grupo de narcotraficantes que foi detido anos
atrás e logo libertado, e cujos guarda-costas foram assassinados.
A NAS é a sessão antinarcóticos
responsável pela administração e coordenação dos recursos que o
governo dos Estados Unidos enviam à Bolívia.
Em meados de maio foram encontrados
seis mortos na região oriental de Santa Cruz, dentre eles três
sérvios e três bolivianos, que supostamente protegiam Williams
Rosales, um chefe do narcotráfico que foi sequestrado em um ajuste
de contas com outro grupo de traficantes. Morales explicou que após
estas mortes suspeitas, investigou o caso e descobriu que o juiz
Roque Leaños, que cuidou do caso de Rosales em 2008 após sua prisão
por narcotráfico em três ocasiões, o deixou em liberdade.
"Este doutor, juiz (Leaños) de
narcóticos recebe 8 mil bolivianos (cerca de US$ 1.145) de salário
mensal dos Estados Unidos e, obviamente, recebe salário do Estado
boliviano. Por isso, esta libertação levanta muitas suspeitas",
disse.
A embaixada dos Estados Unidos em La
Paz anunciou que está analisando o discurso do presidente boliviano.
As declarações de Morales foram feitas um dia antes da chegada do
secretário de Estado adjunto dos Estados Unidos para a América
Latina, Arturo Valenzuela, segundo uma mensagem que ele publicou no
twitter.
Morales também se referiu à ajuda
contra o narcotráfico que os Estados Unidos concedem à Colômbia,
país que recebe - segundo disse - US$ 469 milhões de dólares e
"continua sendo o primeiro país exportador de cocaína e desde 1952
existe cooperação, então, a Colômbia deveria ser o país modelo de
luta contra o narcotráfico".
O governo de Morales expulsou o
embaixador norte-americano em La Paz em setembro de 2008 por
suspeitas de ingerência em assuntos internos. Também expulsou a DEA
(agência antidrogas norte-americana) e um ano depois expulsou um
diplomata da embaixada.
Com frequência, o presidente Morales
diz que seu governo está melhor sem os Estados Unidos. Apesar disso,
Morales reconheceu que o narcotráfico "se infiltra nos poderes e nas
estruturas de Estado, não somente na Bolívia como também em todo o
mundo". Ele anunciou que vai "nacionalizar a luta contra o
narcotráfico na qual também é importante a participação dos Estados
Unidos e da Europa".