Concepción, cerca de 500 quilômetros
ao sul de Santiago, é a segunda maior cidade do Chile, com 670 mil
habitantes. Na cidade, milhares de pessoas sem luz, água ou comida
saquearam lojas, e alguns aproveitaram para levar também televisores
e lavadoras.
"Não são aceitáveis os saques e a
delinquência", disse a presidente Michelle Bachelet.
O governo impôs no domingo um toque
de recolher em Concepción, o que não ocorria desde a ditadura de
Augusto Pinochet (1973-90). Apesar da medida, um supermercado foi
incendiado hoje, e um grupo invadiu um quartel dos bombeiros em
busca de gasolina e água, agredindo soldados e danificando
instalações e veículos.
Tragédia
O terremoto de magnitude 8,8 na
madrugada de sábado (27) deixou mais de 700 mortos, além de
prejuízos bilionários. A empresa Air Worldwide, especializada em
avaliar o impacto financeiro de desastres naturais, disse nesta
segunda-feira que o prejuízo total no Chile pode ultrapassar US$
bilhões [cerca de R$ 26 bilhões].
A prefeita Jacqueline van
Rysselberghe disse que "os saqueadores estão mais organizados" e
"ameaçam a cidade". Ela pediu ao governo o envio de mais soldados
para tentar restaurar a ordem. A polícia lançou gás lacrimogêneo
contra os saqueadores.
Desde a noite de domingo, os saques
ocorrem também em residências, onde os moradores tentam se organizar
para se defender. Num ambiente de guerra, duplas de militares se
postam em cada esquina do centro da cidade.
Os policiais trocaram o uniforme
tradicional por capacetes e coletes à prova de balas. Helicópteros
sobrevoam a cidade, e dezenas de blindados começaram a desfilar
pelas ruas.
As poucas pessoas com acesso à
distribuição oficial de alimentos estavam sob escola policial para
evitar roubos e agressões.
"A ajuda do governo tem sido
lentíssima, muito lenta. Os militares só chegaram ontem, e isso não
basta para controlar a situação. Os moradores de onde eu moro se
organizaram para nos defender, porque estão saqueando casas", disse
a professora Carolina Contreras, 36.
A Marinha disse que 300 soldados
começaram a chegar hoje para ajudar nas tarefas de segurança na
cidade e no porto vizinho de Talcahuano.
Capital
A capital Santiago, a cerca de 320
quilômetros do epicentro, foi atingida duramente pelo sismo. O
aeroporto internacional está fechado por a menos 24 horas uma vez
que o terremoto destruiu calçadas e quebrou vidros de portas e
janelas.
O metrô da capital foi fechado e os
transportes ficaram limitados por causa das centenas de ônibus que
ficaram presos devido a uma ponte que foi danificada pelo tremor.
Segundo a polícia, mais de cem
pessoas morreram em Concepcion, a maior cidade da área próxima do
epicentro, com cerca de 200 mil habitantes. Muitas ruas da cidade
ficaram cobertas de escombros, e centenas de detentos escaparam da
penitenciária após o tremor.
Em 1960, o Chile foi atingido por um
terremoto de magnitude 9,5, um dos mais fortes já registrados. O
tremor devastou a cidade de Valdivia, matou 1.655 pessoas e causou
um tsunami que atingiu a Ilha da Páscoa, distante 3.700 quilômetros
da costa chilena. A onda continuou e chegou ao Havaí, Japão e
Filipinas. As ondas que chegaram nas Filipinas demoraram cerca de 24
horas para atingir o país.
O terremoto deste sábado foi sentido
em São Paulo e também nas Províncias argentinas de Mendoza e San
Juan. Uma série de abalos subsequentes atingiram a região costeira
do Chile.