Nesta terça-feira, o
jornalista Maurício Stycer, do UOL, explica qual teria sido o motivo
da rusga entre Dunga e Escobar. Segundo a reportagem de Stycer, a
Globo negociou diretamente com Ricardo Teixeira, presidente da CBF,
a realização de três entrevistas exclusivas com jogadores da seleção
no domingo à noite, para o Fantástico. Dunga ficou sabendo e vetou.
Na coletiva pós-jogo contra a Costa do Marfim, Escobar falava ao
telefone com o colega Tadeu Schmidt, explicando que o treinador
havia vetado as entrevistas. Dunga ouviu e parou a coletiva para
interpelar Escobar. O que se viu na sequência - pelo mundo todo -
foi aquela coleção de palavrões. Menos mal que a Fifa optou por não
punir o treinador.
A reportagem de Stycer diz também que
o assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva, "dá sinais cada vez
mais evidentes de reprovação à política de clausura imposta pelo
técnico". Nesta terça-feira, cercado por jornalistas logo após a
conturbada entrevista de Kaká, Paiva negou problemas com o técnico.
Dunga foi contratado por Ricardo
Teixeira logo após o fiasco da Copa de 2006. A intenção era que o
capitão do tetra, com fama e cara de mau, acabasse com o "oba-oba"
que marcou a decepcionante campanha a seleção na Alemanha. O acesso
da imprensa aos jogadores foi restrito.
Tenho 10 anos de experiência na
cobertura esportiva e nunca consegui entender como uma entrevista
pode afetar o rendimento de um jogador em campo - e se isso
acontece, o problema é do jogador, que se deixa afetar por fatores
externos, e não do jornalista, que está tentando fazer seu trabalho.
Se a informação está errada, a própria "seleção natural" da imprensa
fará com que o jornalista caia em descrédito. E todos sabem que não
são esses os casos de Alex Escobar e, principalmente, Juca Kfouri.
Aliás, outra coisa que não consigo
entender é a mania de reclamar da imprensa brasileira. A maioria dos
jogadores da seleção atua na Europa, e todos sabem que lá a
cobertura é muito mais invasiva, com paparazzi a postos para flagrar
todo e qualquer movimento em falso. Aqui no Brasil, só Ronaldo e
Adriano sofrem tal marcação - e nem é da imprensa esportiva, mas sim
do pessoal que cobre "celebridades".
Mas voltando ao assunto Dunga:
coincidência ou não (e eu acredito que é apenas coincidência), o
time de Dunga engrenou - foi campeão da Copa América e da Copa das
Confederações, e passeou pelas Eliminatórias com raros traumas (como
o empate em 0 a 0 com a Bolívia no Engenhão). Méritos dele.
Por isso, pode ser que Dunga esteja
com a razão - melhor fechar mesmo a seleção. Pode ser que sim, pode
ser que não. Mas é a opinião dele, vamos respeitar. O que não dá
para engolir é a postura ofensiva num evento oficial como a
entrevista coletiva da Fifa. Se está possesso com um jornalista ou
uma emissora, que vá tirar satisfações de forma reservada. Em
público, Dunga é o comandante da seleção de futebol de um país, e
precisa se comportar como tal - e não como um cabeça-de-área.