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Presidente interino de Honduras prepara equipe de governo

 

Presidente interino de Honduras prepara equipe de governo

O presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, declarou na noite deste domingo um toque de recolher para evitar distúrbios nas ruas. Nos bastidores, ele já reúne aliados para montar a equipe com a qual pretende governar o país nos próximos sete meses.

O presidente eleito e deposto, Manuel Zelaya, não está disposto a acatar sua queda do poder e, em exílio na Nicarágua, busca o apoio dos colegas da América Central para recuperar o poder.

Zelaya foi derrubado do poder neste domingo, em um golpe orquestrado pela Justiça e o Congresso e executado por um grupo de militares que o expulsaram para a Costa Rica, provocando uma condenação mundial unânime.

O golpe foi realizado horas antes de o país iniciar uma consulta pública sobre um referendo para reformar a Constituição. O presidente deposto queria incluir o referendo sobre a convocação da Assembleia Constituinte --que, segundo críticos, era uma forma de Zelaya instaurar a reeleição presidencial no país-- nas eleições gerais de 29 de novembro. A proposta, contudo, foi rejeitada pelo Congresso.

Os parlamentares afirmaram que a deposição de Zelaya foi aprovada por suas "repetidas violações da Constituição e da lei e desrespeito a ordens e decisões das instituições".

Já no exílio, Zelaya defendeu-se dizendo que foi deposto "em um complô de uma elite voraz, uma elite que só quer manter o país isolado, em um nível extremo de pobreza". De pijamas, ele concedeu uma entrevista coletiva, ao lado do presidente costarriquenho, Oscar Arias, na qual ressaltou que é o presidente hondurenho legítimo até 2010.

"Fui retirado da minha casa de forma brutal, sequestrado por soldados encapuzados que me apontavam rifles", contou. "Eu, até as próximas eleições, continuo sendo o presidente legítimo de Honduras. Somente o povo pode me derrubar, nunca um grupo de gorilas", afirmou Zelaya, citado pelo jornal "El Pais".

Já na inauguração da cúpula extraordinária da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), ladeado pelos presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Rafael Correa (Equador), Daniel Ortega (Nicarágua) e pelo chanceler de Cuba, Bruno Rodríguez, Zelaya afirmou estar vivo por "uma graça de Deus".

"Houve um momento em que as rajadas das metralhadoras que estavam sendo disparadas em nossa frente eram tão fortes, e era tanta a violência e brutalidade com que mais de 200 elementos [militares] invadiram minha casa em começo da manhã deste domingo", relatou

"Diziam-me: "se não soltar o celular, atiramos. Solte o celular senhor." E todos apontando para minha cara e meu peito", prosseguiu. "Em forma muito audaz lhes disse: "se vocês vêm com ordem de disparar, disparem, não tenho problema de receber, de parte dos soldados da minha pátria uma ofensa a mais para meu povo, porque o que estão fazendo é ofendendo o povo"."

O presidente deposto afirmou ainda que, em Honduras, há apenas um líder. "Ele está aqui em frente de vocês, porque os presidentes são eleitos pelo povo."

Governo

No Congresso de Honduras, um funcionário leu uma carta com a suposta renúncia de Zelaya --que, em San José, desmentiu de modo veemente o ato. "Eu nunca renunciei e nunca vou usar este mecanismo enquanto for presidente eleito pelo povo", declarou.

Micheletti, presidente do Congresso, afirmou que o golpe foi um "processo absolutamente legal", contemplado na Constituição de Honduras.

Companheiro de Zelaya no Partido Liberal (PL), o presidente interino já anunciou os primeiros membros de seu gabinete e pediu a todos os funcionários do Executivo de Zelaya que trabalhem normalmente.

Para prevenir eventuais distúrbios, Micheletti decretou um toque de recolher para as próximas 48 horas, em vigor das 21h às 6h.

O canais de TV e as rádios públicas, favoráveis ao governo de Zelaya, seguem em silêncio, assim como os críticos, como o canal americano CNN, retirado do ar depois de colocar em dúvida a versão oficial da renúncia voluntária do presidente.

O poderoso sindicato de professores prometeu manifestações e partidários de Zelaya criaram a Frente Popular de Resistência (FPR) para exigir a volta do presidente ao poder.

Reação internacional

Depois da condenação dos EUA, da OEA, da Venezuela e do Brasil, a Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu se reunir em caráter de emergência para analisar a crise em Honduras.

Por sua vez, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon, pediu que Zelaya seja restabelecido no cargo e que os direitos humanos sejam respeitados em Honduras.

A Comissão Europeia (órgão executivo da União Europeia) pediu nesta segunda-feira que "todas as partes envolvidas" na crise hondurenha iniciem "rapidamente" um diálogo, a fim de "resolver suas diferenças de maneira pacífica, com total respeito ao marco legal do país".

"A Comissão Europeia concede a maior importância ao respeito ao Estado de direito, à democracia e às instituições democraticamente escolhidas", afirmou, em comunicado, a comissária de Relações Exteriores da UE, Benita Ferrero-Waldner, que "lamentou" os recentes eventos.

A Comissão "tem uma longa história de estreitas relações com Honduras e com toda a região centro-americana" e está disposta a apoiar as instituições do país nesse diálogo, afirmou a comissária.

A ajuda econômica prevista para Honduras pelo Executivo comunitário entre 2007 e 2013 é de um total de 223 milhões de euros.

O ministro das Relações Exteriores alemão, Frank Walter Steinmeier, também condenou a detenção do presidente Zelaya.

"Essa atuação viola a ordem constitucional de Honduras", ressalta o chefe da diplomacia alemã, em comunicado emitido por seu escritório. "A principal prioridade deve ser o rápido retorno à lei e à ordem".

"Faço uma chamada às partes em conflito para que retornem ao diálogo e à busca de uma solução pacífica que se atenha à democracia e ao Estado de direito", afirma o ministro alemão.

Nos EUA, que veem em Honduras um parceiro estratégico, o presidente Barack Obama se reúne nesta segunda-feira com seu colega colombiano, Álvaro Uribe. Espera-se que a crise de Honduras ocupe um papel destacado nas conversas entre os dois presidentes.

Em comunicado, Obama reconheceu neste domingo sua preocupação pelo golpe militar e pediu "respeito às normas democráticas" e a resolução das disputas através de um "diálogo livre de interferência exterior".

Fontes norte-americanas afirmam que o Exército hondurenho, que tradicionalmente manteve laços estreitos com os EUA, cortou o contato com a diplomacia do país após o golpe.

Os EUA mantêm deslocado um destacamento militar em Honduras, a cerca de 80 quilômetros de Tegucigalpa, que se ocupa de treinar o Exército hondurenho, assim como de prestar assistência em operações contra o narcotráfico, operações de procura e resgate, e ajuda em desastres naturais na América Central.

    

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Fonte

Brasil só reconhece governo de Zelaya em Honduras

Líderes latinos apóiam presidente deposto de Honduras

O GOLPE DE HONDURAS

 

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