A crise financeira internacional
acelerou o declínio das empresas americanas do ramo de jornalismo
impresso. Nesta terça-feira, o jornal Seattle Post-Intelligencer,
de 146 anos, circulou pela última vez antes de se tornar um veículo
online. A mudança se segue ao fechamento do Rocky Mountain News,
de Denver, no mês passado e a problemas financeiros que levaram o
New York Times a arrendar parte de sua sede recém-construída por
US$ 225 milhões.
Segundo um estudo do Pew Project for
Excellence in Journalism (Projeto para Excelência em Jornalismo, em
tradução livre), intitulado "O Estado das Empresas Jornalísticas", o
faturamento dos jornais impressos com publicidade caiu de US$ 49,3
bilhões, em 2006, para US$ 38 bilhões, no ano passado (com
estimativa do quarto trimestre de 2008). O resultado aponta uma
queda de 23% neste tipo de receita nos dois anos, de acordo com
números fornecidos pela Newspaper Association of America (Associação
de Jornais dos Estados Unidos).
A queda do faturamento também se
refletiu nas ações das empresas jornalísticas. Em 2008, de acordo
com o estudo do Pew Project, os papéis ligados ao setor perderam em
média 83% de seu valor. Até gigantes da mídia impressa sofreram como
o New York Times, com redução de 60% do valor das ações, e o
Washington Post, com declínio de 51%, em ambos os casos no
ano passado.
A dureza das condições financeiras no
ano passado, por conta da crise financeira e econômica
internacional, fez com que jornais que tinham perdas, mas
mantinham-se funcionando, como o Seattle Post-Intelligencer,
migrassem para o online.
Com perdas de US$ 14 milhões em 2008,
o jornal do grupo Hearst Newspapers teve que repassar seus 117,6 mil
assinantes ao concorrente e agora único jornal impresso da cidade -
o Seattle Times.
O P-I, como o jornal de
Seattle era chamado, tinha prejuízos anuais seguidos desde 2000 ,
segundo o jornal Los Angeles Times, e agora vai ter seu
quadro de funcionários da redação reduzido de 165 para cerca de 20.
O jornal tinha sido posto à venda pelo seu controlador em 9 de
janeiro, mas não houve interessados.
O grupo Hearst também pode fechar a
operação de outro jornal de seu portfólio, o San Francisco
Chronicle, caso não encontre maneiras de cortar custos. O
Chronicle perdeu cerca de US$ 1 milhão a cada semana em 2008,
informou a CNN.
Outro veículo que anunciou
recentemente sua migração para o online, também segundo a CNN,
foi o The Christian Science Monitor, que deve ser encontrado
somente na internet a partir de abril.
A onda de quebras no setor também
atingiu a Filadélfia. Em 27 de fevereiro, o grupo Philadelphia
Newspapers, proprietário dos dois principais jornais da cidade, o
Inquirer e o Daily News, pediu proteção à lei de falência
americana. A decisão foi anunciada um dia depois do Journal Register
Co., conglomerado que publicava 20 jornais e possuía mais de 180
veículos de imprensa em cinco Estados americanos, anunciar sua
falência.
No caso do tradicional New York
Times, o jornal se viu obrigado a fazer um arrendamento misto
com venda, por US$ 225 milhões, de 21 dos 52 andares de sua sede. O
jornal investiu mais de US$ 600 milhões no prédio, que tem desenho
do arquiteto italiano Renzo Piano e ficou pronto em 2007. O jornal
também considera receber um aporte de US$ 250 milhões - em troca de
dividendos anuais - por parte do bilionário mexicano Carlos Slim
Helú, um dos 10 homens mais ricos do mundo.
Aumento dos custos
Além da redução drástica nas receitas com publicidade, os jornais
também enfrentaram, no ano passado, o aumento de outros custos
relacionados à sua atividade. Um deles, o papel, teve aumento de
aproximadamente 25% (em relação ao ano anterior) do final de 2007 e
durante a maior parte de 2008, aponta o relatório.
Como solução, alguns veículos, entre
eles o New York Times, foram obrigados a reduzir a espessura
e o tamanho de suas páginas. Muitos dos 1,4 mil jornais diários dos
EUA também migraram para formatos menores, como o tablóide e o
berliner. Isto, relacionado a uma redução na circulação, fez com que
os jornais evitassem "despesas matadoras", segundo o Pew Project.
Outro impacto sentido pelos jornais
no ano passado foi o aumento nos custos de distribuição, por conta
da alta no preço dos combustíveis. Com a gasolina a US$ 4 por galão
(3,78 l), muitas empresas precisaram terceirizar sua frota de
distribuição. A situação melhorou no final do ano, quando, de acordo
com o estudo, os custos com combustível caíram para US$ 2 por galão.
Cobrar ou não cobrar no
online?
Segundo o estudo do Pew Project, a atual crise coloca os jornais na
direção de obter novas receitas com seu conteúdo publicado online. A
opção de iniciar uma cobrança do conteúdo pode estar focada no
"remédio errado" enquanto outras idéias ficarão inexploradas, aponta
o relatório.
"A discussão pública está focada em
micropagamentos. Nós pensamos que outros modos podem ser muito mais
promissores", diz Tom Rosenstiel, diretor do Pew em Washington.
O sexto estudo anual da entidade
sobre mídia aponta que um pagamento mensal, nos modelos da TV a cabo
e, no caso, cobrado na conta da internet do consumidor, pode ser
mais interessante do que cobrar por cada matéria acessada.
"Você paga quando entra na rodovia e
não a cada 15 metros percorridos", afirma Rosenstiel.
Apesar da aposta no modelo online,
feita por alguns jornais em tempos de crise, a sobrevivência das
empresas vai depender da criação de novas fontes de receita, aponta
o relatório da Pew Project.
"Dos US$ 38 bilhões em publicidade
que a indústria (dos jornais) estima ter arrecadado em 2008, apenas
US$ 3 bilhões vieram do online", aponta o texto, citando dados da
Newspaper Association of America.
Outro dado preocupante para os
jornais é que a receita com publicidade online, que vinha crescendo
em taxas de 26% a 31% de 2003 a 2006, caiu para 18,8%, em 2007, e
afundou para uma expansão de apenas 2% em 2008, apontou o "O Estado
das Empresas Jornalísticas".